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Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb

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Gestão universitária e gestão dos sistemas de ensino: desafios de uma articulação sob a inspiração de Anísio Teixeira<br />

com Anísio Teixeira, a partir da sua experiência na<br />

condução da educação no Rio de Janeiro, quando<br />

assumiu, em 1931, a Diretoria da Educação do<br />

Ministério da Educação (Diretoria da Instrução<br />

Pública do Distrito Federal), a convite de Pedro<br />

Ernesto do Rego Batista, por indicação do jurista<br />

Temístocles Cavalcanti.<br />

Já aqui, as marcas dos regimes e práticas autoritárias<br />

vão sobre a educação; mas, não sem encontrar<br />

a força dos ideais que sustentam a caminhada dos<br />

educadores. Pedro Ernesto, então interventor no<br />

Distrito Federal (1931), tornou-se o primeiro prefeito<br />

eleito do DF (1934) e, com Anísio, promoveu<br />

a maior e a mais profunda transformação da educação<br />

ocorrida no país, junto com a implantação da<br />

Universidade do Distrito Federal (UDF) 5 . Assim<br />

a resume Francisco Gilson Rebouças Porto Júnior<br />

(2003), no ensaio Anísio Teixeira e a Universidade<br />

do Distrito Federal (UDF): um retrospecto:<br />

28<br />

Dentre as várias modificações implantadas por Anísio,<br />

pode-se destacar: uma campanha de expansão e<br />

modernização do sistema escolar no nível primário<br />

e médio; elevou todo o ensino técnico-profissional<br />

(que antes era destinado ao filho do trabalhadoroperário)<br />

ao nível do secundário (que era anteriormente<br />

reservado para aqueles que continuariam seus<br />

estudos a nível superior); criou o Instituto de Educação<br />

como modelo contando com todos os níveis de<br />

ensino – desde jardins de infância, escola primária<br />

experimental, curso ginasial, o curso profissional e<br />

níveis superiores. (...) a escola pública começava a<br />

sair da sombra e ganhar imponência.<br />

De fato, Anísio concebe e implanta uma rede<br />

municipal de ensino que vai da escola primária<br />

à universidade, desafiando todos os parâmetros<br />

tradicionais do sistema até então vigente (FIA-<br />

LHO, 2001): transforma a antiga Escola Normal<br />

nos Institutos de Educação; redefine, inclusive, a<br />

própria disposição físico-espacial das instalações<br />

educacionais, alterando a sua arquitetura; promove<br />

a ampliação do número de matrículas, gerando<br />

maiores oportunidades para o acesso à educação;<br />

concebe e implanta novas alternativas para o<br />

aperfeiçoamento de professores e outras inovações,<br />

articulando as áreas das artes e da cultura,<br />

fomentando o fortalecimento da vida universitária<br />

na convivência saudável das idéias e experiências<br />

de estudantes, mestres e doutores, firmando sua<br />

concepção da universidade como uma instituição<br />

voltada para a formação e o desenvolvimento da<br />

cultura nacional.<br />

O impacto dessas ações reverbera sobre segmentos<br />

privatistas que, além da Igreja Católica,<br />

não aceitavam as concepções de educação pública,<br />

universal, gratuita, laica e de qualidade, defendidas<br />

por Anísio. Sob pressão, Anísio renuncia, em 1935,<br />

deixando um forte – e doloroso – registro na carta<br />

que dirigiu a Pedro Ernesto:<br />

Pela conversa que tive, ontem, com Vossa Excelência,<br />

pude perceber que a minha permanência na<br />

Secretaria de Educação e Cultura do Distrito Federal<br />

constituía embaraço político para o governo de Vossa<br />

Excelência. Reiterei, imediatamente, o meu pedido<br />

de demissão, que esteve sempre formulado, porque<br />

nunca ocupei incondicionalmente esse cargo, nem<br />

nenhum outro, mas o exerci, como os demais, em<br />

caráter rigorosamente técnico, subordinando a minha<br />

permanência neles à possibilidade de realizar programas<br />

que a minha consciência profissional houvesse<br />

traçado. (TEIXEIRA, 1997, p.33-35) 6<br />

A resposta do Prefeito chega em 2 de dezembro<br />

de 1935:<br />

Meu prezado amigo Dr. Anísio Teixeira - Cordiais<br />

abraços.<br />

No momento em que me vejo privado da sua colaboração<br />

em meu governo, após quatro <strong>anos</strong> de uma<br />

dedicação inexcedível, cumpre-me deixar bem claro<br />

o alto apreço em que o tenho como educador exemplar<br />

e culto, como cidadão probo e patriota, como<br />

administrador de segura visão e de rara envergadura.<br />

Dou o meu testemunho da veracidade de quanto<br />

afirma em sua carta, pois do nosso convívio pude<br />

perceber que o Secretario de Educação e Cultura<br />

do Distrito Federal foi sempre adverso aos movi-<br />

5 Do quadro de professores participavam os mais importantes intelectuais<br />

brasileiros e estrangeiros, a exemplo de Afrânio Peixoto (Reitor),<br />

Alair Accioly Antunes, Alfredo Schaeffer, Anísio Teixeira, Álvaro<br />

Vieira Pinto, Carlos Accioly de Sá, Carlos de Azevedo Leão, Cândido<br />

Portinari, Castro Rebello, Celso Octávio do Prado Kelly (Diretor do<br />

Instituto de Artes), Cecília Meirelles, Delgado Carvalho, Durval Potyguara<br />

E. Curty, Edgardo Castro Rebello (Diretor da Escola de Filosofia<br />

e Letras), Francisco M. de Oliveira Castro, Gilberto Freyre, Hermes<br />

Lima (Diretor da Escola de Economia e Direito), Heloysa Marinho, José<br />

Paranhos Fontenelle, José Faria Góes Sobrinho, Joaquim Costa Ribeiro,<br />

José Leite e Oiticica, Lélio Gama, Lourenço Filho (Diretor da Escola de<br />

educação), Lúcio Costa, Nestor de Figueiredo, Mário Casasanta, Mário<br />

de Andrade, Othon Leonardos, Roberto Marinho de Azevedo (Diretor<br />

da Escola de Ciências), e Sérgio Buarque de Holanda.<br />

6 Vide também o site: http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/correspond.htm<br />

Revista da <strong>FAEEBA</strong> – Educação e Contemporaneidade, Salvador, número especial, p. <strong>25</strong>-40, jul./dez. 2009<br />

<strong>FAEEBA</strong> <strong>25</strong> <strong>anos</strong>.indd 28 2/2/2011 13:44:58

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