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Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb

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ia investigar, pois, se esses princípios dominantes<br />

da era moderna têm sido substituídos por outros,<br />

justamente numa era em que as instituições sociais<br />

estão diluindo suas tradições sob o impacto das<br />

transformações do capitalismo cultural e cibernético,<br />

e da era da supercomplexidade na produção do<br />

conhecimento. Derrida perguntava nesse sentido,<br />

o seguinte:<br />

Há hoje, para a Universidade, o que se chama de<br />

“uma razão de ser”? Confio deliberadamente minha<br />

questão a uma locução cujo idioma é, sem dúvida,<br />

antes, francês. Em duas ou três palavras, este nomeia<br />

tudo aquilo que de que falarei: a razão e o ser, evidentemente,<br />

a essência da Universidade em sua relação<br />

com a razão e com o ser, mas também a causa, a finalidade,<br />

a necessidade, as justificativas, o sentido, a<br />

missão, em suma, a destinação da Universidade. Ter<br />

uma “razão de ser” é ser justificado em sua existência,<br />

ter um sentido, uma finalidade, uma destinação.<br />

É também ter uma causa, deixar-se explicar, segundo<br />

o «principio de razão», através de uma razão que é<br />

também uma causa (ground, Grund), ou seja, ainda<br />

um fundamento e uma fundação. 6<br />

De ser assim, caberia então avaliar qual é o<br />

sentido filosófico da Universidade atual, e quais<br />

seriam as conseqüências institucionais de uma<br />

possível refundamentação filosófica da mesma,<br />

se é que a filosofia, (e qual filosofia?), ainda será<br />

considerada a base para essa fundamentação, como<br />

dizíamos logo acima.<br />

No presente ensaio, desejamos discutir apenas<br />

algumas questões gerais que giram em torno<br />

das idéias de três autores: Ronald Barnett, Jean-<br />

François Lyotard e Jacques Derrida. Na realidade,<br />

as propostas de Barnett são de onde se parte para<br />

buscar construir a interlocução com os outros dois<br />

autores, pois o próprio Barnett as utiliza para fundamentar<br />

seu pensamento, mesmo criticando-as<br />

por momentos. Por isso, nos pareceu importante<br />

recolher algumas dessas propostas barnettianas,<br />

para ajudar-nos a interatuar com as referências que<br />

ele propõe e, ao mesmo tempo, poder propulsar a<br />

nossa própria reflexão sobre o assunto.<br />

3. Supercomplexidade e Universidade<br />

O termo “supercomplexidade” pode parecer um<br />

tanto esotérico, mas de fato está sendo utilizado,<br />

Revista da <strong>FAEEBA</strong> – Educação e Contemporaneidade, Salvador, número especial, p. 161-176, jul./dez. 2009<br />

Fernando Juan García Masip<br />

junto com o de “complexidade”, pelas abordagens<br />

científicas mais duras e desenvolvidas (matemáticas,<br />

física, química, astrofísica, informática etc.),<br />

mas também pelas áreas sociológicas, antropológicas<br />

e psicológicas etc., no sentido de descrever<br />

um conjunto de regras ou de procedimentos que<br />

organizam a realidade desde perspectivas múltiplas.<br />

Isso quer dizer que os marcos de compreensão da<br />

realidade estão sujeitos à convivência contraditória<br />

com outros marcos de interpretação que podem ser<br />

igualmente válidos, ou pelo menos, cuja produção<br />

de sentido pode ser epistemologicamente refutada<br />

ou impugnada. Essa seria a principal característica<br />

da denominada “pós-modernidade”, e não só da<br />

pós-modernidade cultural, mas, sobretudo, da pósmodernidade<br />

epistemológica e científica (que, por<br />

outro lado, pertence institucionalmente à própria<br />

pós-modernidade cultural num sentido geral, mas<br />

não comparte necessariamente e de forma linear<br />

todos seus vínculos com esta).<br />

Apesar de sua herança conceitual “sistêmica”,<br />

os termos complexidade e supercomplexidade,<br />

resultam interessantes unicamente para poder<br />

caracterizar as formas como se estão produzindo<br />

atualmente os saberes de todo tipo, ou pelo menos,<br />

os dominantes, isto é: os técnico-científicos. Evidentemente,<br />

a oposição do complexo e do simples<br />

deve ser avaliada com cuidado para não cair em<br />

mais uma armadilha da conceitualidade metafísica.<br />

Porém, no que diz respeito a este estudo, manteremos<br />

operante essa oposição conceitual, pelo menos<br />

até o momento em que nos resulte insuficiente<br />

interpretativamente e tenhamos que proceder a sua<br />

rigorosa desconstrução.<br />

Nesse sentido, propomos o seguinte: se um<br />

conjunto de regras simples produz comportamentos<br />

ou sistemas complexos, sistemas supercomplexos<br />

não são produtos de um conjunto de regras supersimples,<br />

mas produtos da coexistência de vários<br />

conjuntos diferentes de regras simples, inclusive<br />

conjuntos que podem ser contrários entre si ou<br />

inteiramente diferentes. Portanto, a Universidade<br />

de hoje enfrenta o desafio de auto(re)produzir-se<br />

numa sociedade supercomplexa, aceitando que a<br />

6 DERRIDA, Jacques. “As pupilas da Universidade. O principio de<br />

razão e a idéia de Universidade” in: O Olho da Universidade. São<br />

Paulo: Estação Liberdade, 1999. p.124.<br />

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