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Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb

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uma ausência, mas no sentido de uma presença que<br />

está sempre em atraso diferencial em relação com<br />

a realidade formal. Existe “em si” sem referência<br />

objetiva, a não ser como autoreferência.<br />

Em geral, a cultura pós-moderna tem esse aspecto<br />

de rompimento com as referências objetivas,<br />

formais, lineares e realistas; isso convida à conformação<br />

de personalidades mais plásticas, onde<br />

se vivem vários personagens ao mesmo tempo, ou<br />

em contextos distintos, auto-referenciais em muito,<br />

mas igualmente construídos para poder estabelecer<br />

relações singulares com os outros. Diríamos que a<br />

personalidade pós-moderna tem muito de uma estética<br />

da existência, não mais apoiada no romantismo<br />

ególatra e reativo de finais do século XIX, mas na<br />

fragmentação lúcida de um eu perdido para sempre<br />

no sublime das redes do existir contemporâneo.<br />

Assim, a terceira regra de Barnett nos levou a<br />

pensar um tanto na época atual, embora não tenhamos<br />

esgotado ainda esta reflexão sobre a relação<br />

entre a Universidade e a sociedade. Vejamos.<br />

3.4. O movimento das fronteiras<br />

Numa era de supercomplexidade não pode se ter<br />

fronteiras fixas na Universidade. (...) As fronteiras<br />

jogam um papel importante na hora de assegurar a<br />

identidade de propósito, mas a Universidade tem<br />

que encontrar formas de lograr que essas fronteiras<br />

sejam transitórias e de transcender as que já foram<br />

instaladas. A vida universitária tem que se fazer nômade,<br />

de modo que as identidades e os propósitos se<br />

experimentem em campos fronteiriços. (BARNETT,<br />

2002, p. 145)<br />

Talvez, a melhor forma de evitar que o próprio<br />

peso do capitalismo, seja de mercado, seja de Estado,<br />

sufoque a Universidade, seja precisamente<br />

mantê-la numa situação de nomadismo, de “fronteirização”;<br />

e tornar as outras instituições sociais<br />

“dependentes” do mundo transformativo, e não<br />

somente performativo, da universidade contemporânea<br />

e da universidade por vir: a universidade<br />

sem condição. O que é isto – universidade sem<br />

condição? É o que propúnhamos mais acima como<br />

a possibilidade do poder dizer tudo, de poder<br />

submeter qualquer conhecimento, ou saber, ou<br />

discurso, a debate, a crítica, a questionamento, a<br />

Revista da <strong>FAEEBA</strong> – Educação e Contemporaneidade, Salvador, número especial, p. 161-176, jul./dez. 2009<br />

Fernando Juan García Masip<br />

impugnação, a desconstrução. A razão não desaparece,<br />

mas se torna cúmplice das fronteiras e da<br />

disseminação do sentido além das fronteiras, e não<br />

mais num centro irradiador de uma verdade eterna<br />

e inamovível 13 .<br />

Como o confirma Neave:<br />

Em efeito, estamos perante a perspectiva de uma<br />

espécie de desmontagem sistêmica As fronteiras,<br />

alguma vez indiscutidas, entre instituições e programas<br />

têm se tornado permeáveis, ou o serão em<br />

pouco tempo, na medida em que mais indivíduos as<br />

cruzem. Como devemos abordar esta complexidade<br />

sistêmica, isso que se apresenta como um processo<br />

desenfreado de diversificação, institucional e programática,<br />

é, na minha opinião A questão básica que<br />

terá que enfrentar o ensino superior [...]” (NEAVE,<br />

2001, p. 37)<br />

Estas fronteiras não desaparecem simplesmente<br />

com a possibilidade de dizer tudo A interpenetração<br />

cada vez mais marcada da pesquisa científica e da<br />

produção empresarial mostra como a universidade<br />

deve tomar as rédeas deste processo e não correr<br />

para proteger-se detrás de suas já conhecidas<br />

fronteiras acadêmicas. Não se trata de abrir a<br />

Universidade para que as empresas a submetam<br />

a seus projetos estratégicos, ao contrario, se trata<br />

de que a Universidade seja capaz de se assumir<br />

neste mundo de interconectividade generalizada,<br />

liderando, justamente, para o bem público, os projetos<br />

de pesquisa e de ensino que são efetivamente<br />

importantes como bens sociais. E somente com as<br />

universidades se pode fazer isso. Nesse sentido,<br />

Gibbons é claro, quando afirma que:<br />

[As universidades] têm a necessidade não de apoiar<br />

passivamente, mas de jogar um papel diretivo na<br />

facilitação e gestão da produção dinâmica da pesquisa.<br />

“[...] é necessário que, como instituições,<br />

decidam passar da produção de conhecimentos<br />

simplesmente confiáveis ao que poderíamos chamar<br />

de produção de conhecimentos socialmente<br />

pertinentes.” (GIBBONS, apud BRETON & LAM-<br />

BERT, 2003, p. 127)<br />

13 DERRIDA, Jacques. Em: “As pupilas da Universidade. O principio<br />

de razão e a idéia de Universidade” (vide nota 6): “Quanto eu saiba,<br />

jamais se fundou um projeto de Universidade contra a razão. Pode-se,<br />

portanto, razoavelmente pensar que a razão de ser da Universidade<br />

foi sempre a própria razão e uma certa relação essencial da razão<br />

com o ser.” (p. 131).<br />

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