Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb
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Educação, território e extensão universitária: apontamentos de um sociólogo da educação na antiga faeeba<br />
Introdução<br />
O Grupo de Pesquisa sobre Universidade e<br />
Território, coordenado pela Prof.ª Nadia Fialho,<br />
do qual faço parte, tem como um de seus objetivos<br />
examinar a relação da universidade com<br />
o desenvolvimento sustentável local e regional,<br />
especialmente no que concerne aos estudos sobre<br />
a educação.<br />
Mello (2007) na Amazônia e Fialho (2000) na<br />
Bahia, em diferentes contextos, analisam o novo<br />
papel da universidade nas regiões periféricas como<br />
promotoras do desenvolvimento regional sustentável.<br />
A estratégia para a integração da universidade<br />
ao processo de desenvolvimento local deve ser<br />
adotada também por meio do trabalho de extensão,<br />
ao lado de um ensino e pesquisa voltados para os<br />
interesses locais.<br />
Universidade, ciência e sociedade: novos<br />
paradigmas<br />
Já no início do século XX, Weber (1974, p. 156)<br />
assinalava o fato de que as universidades alemãs<br />
estavam seguindo o modelo das norte-americanas,<br />
organizadas como as empresas capitalistas modernas,<br />
através de sua estrutura em departamentos e<br />
recursos recebidos do setor privado, “Os grandes<br />
institutos de Medicina ou Ciências Naturais são<br />
empresas ‘capitalistas estatais’ que não podem ser<br />
administradas sem consideráveis recursos”. Tratase,<br />
no caso, da separação entre o trabalhador e o<br />
meio de produção, pois, segundo Weber, ao receber<br />
os recursos do Estado, o diretor (chefe do instituto)<br />
o administra como se fora seu e os demais assistentes<br />
da universidade são comparados à “existência<br />
‘quase-proletária’ e tão precária quanto a posição do<br />
assistente na universidade americana” (WEBER,<br />
1974, p. 16).<br />
Instituição milenar, a universidade soube sobreviver<br />
ao longo dos tempos em meio a suas inúmeras<br />
crises (ESPAÑA, 2006). A principal dessas crises,<br />
de acordo com o autor, é a de concepção, ou seja,<br />
a disputa entre assumir a perspectiva tecnológica<br />
ou a humanística. É certo, porém, que as próprias<br />
ciências sociais, em seu nascimento, tinham como<br />
referência o estatuto epistemológico das ciências<br />
naturais.<br />
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O papel da ciência e da tecnologia tem sido debatido<br />
em diferentes perspectivas, desde a sociologia<br />
do conhecimento, afirmando o papel primordial<br />
das novas tecnologias do mundo (as tecnopólis) ou<br />
da participação da sociedade e do conhecimento<br />
popular na mediação e uso desses conhecimentos<br />
produzidos pela academia (MORIN, 2004; ORE-<br />
FICE, 2007). A esse respeito, vale assinalar as<br />
experiências das universidades em realizar trabalhos<br />
de incubação de cooperativas populares ou de<br />
empreendimentos solidários populares e contribuir<br />
para a organização da sociedade, através do trabalho<br />
da extensão universitária: “Uma contribuição à<br />
organização das pessoas premidas pelo desemprego<br />
para que possam assumir ocupações no campo do<br />
trabalho, apossando-se de mais renda e procurando<br />
melhoria em suas condições de vida.” (COSTA,<br />
MELO NETO, 2006, p. <strong>10</strong>3)<br />
Para Argueta (2007, p. 49), a relação entre a universidade<br />
e o desenvolvimento local deve ter como<br />
desafio a possibilidade de transcender “los muros<br />
universitarios y se haga realidad la vinculación con la<br />
sociedad con resultados visibles desde el desarrollo<br />
local”. Um ponto importante nessa perspectiva é o<br />
da formação de redes cooperativas e territoriais.<br />
Os estudos sobre sociedade e desenvolvimento<br />
sustentável já produziram uma série de teorias e<br />
metodologias de análises no âmbito das ciências<br />
sociais e das ciências naturais. Muitos trabalhos<br />
de diferentes escolas tratam do tema ciência, tecnologia<br />
e sociedade, defendendo ou criticando o<br />
determinismo da tecnologia sobre a sociedade, sua<br />
importância no mundo atual, seu papel de difusão<br />
da cultura e sua relação com o espaço em uma abordagem<br />
epistemológica da geografia e da sociologia.<br />
Nessa linha, são exemplos os trabalhos de Capra<br />
(1996, 2002a, 2002, 2006), Stone; Barlow (2006),<br />
Capel (1989), Alier (2007), Santos (1999), Castells<br />
(2000), Caravaca (1988), Latour; Schwartz;<br />
Charvolin (1998), Garcia; Cerezo e López (1997),<br />
Funtowicz, Ravetz (1997), bem como os de Wynne<br />
(1997), Leff (2003) e Morin (2004).<br />
Cumpre observar, porém, que esses trabalhos<br />
não constituem uma unidade de discursos sobre<br />
o tema, visto que, em certa medida, são grandes<br />
reflexões que se completam ou problematizam<br />
radicalmente o edifício conceitual dos discursos<br />
acadêmicos tradicionais.<br />
Revista da <strong>FAEEBA</strong> – Educação e Contemporaneidade, Salvador, número especial, p. 95-<strong>10</strong>2, jul./dez. 2009<br />
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