Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb
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todas as publicações SEMENTES, canal editorial<br />
próprio do Programa institucionalizado em 2000<br />
na UNEB.<br />
Observem os triângulos. Eles formam o machado<br />
duplo, símbolo de sociabilidade 2+1=3, o casal<br />
mais um, continuidade ininterrupta da existência,<br />
princípio do orixá Xangô, complementado pelos<br />
pequenos círculos que contêm as três cores básicas<br />
da existência: branco, preto e vermelho, existência<br />
abstrata, mistério, sangue circulante. Duas flechas,<br />
simbologia da origem da humanidade, emblemas<br />
de Odé o caçador. Dois arcos complementar o<br />
ofá, arco e flecha, e também alusão ao berimbau,<br />
instrumento básico da capoeira, ícone da liberdade.<br />
Coluna de triângulos, losângulos, simbologia dos<br />
machados duplos sustentando a sucessão contínua<br />
do existir.<br />
No Prodese, reunimos ao longo dos <strong>anos</strong> pesquisadores/as<br />
mobilizados/as para produzir idéias<br />
e iniciativas que removam os entulhos ideológicos<br />
característicos de determinadas geografias<br />
conceituais, a exemplo do recrudescer de análises<br />
reducionistas sobre alteridade e diversidade cultural,<br />
que recuperam perspectivas do final do século<br />
XIX e início do século XX. Sincretismo, mestiçagem,<br />
“laboratório racial” no dizer de Gilberto<br />
Freire agora reeditado, saturam vários espaços<br />
acadêmicos, inclusive aqueles dedicados à formação<br />
de educadores. Apesar das nossas críticas a<br />
essas ideologias, ainda encontramos classificações<br />
etnocêntrico-evolucionistas sobre as projeções educacionais<br />
das comunalidades africano-brasileiras,<br />
tratando-as como essencialistas, holísticas, exóticas,<br />
românticas, híbridas, mutantes, classificadas<br />
como pensamento “não científico”, deformando,<br />
apequenando e encobrindo os valores do nosso<br />
patrimônio cultural.<br />
Esses repertórios conceituais em voga, geralmente<br />
reprodução de contextos radicalmente<br />
distintos da nossa realidade, se estabelecem como<br />
um “manto de ferro”, censurando de modo perverso<br />
a nossa alteridade civilizatória.<br />
Nesse contexto teórico-ideológico, a rejeição<br />
possui inúmeros aspectos, é o terreno onde se<br />
constrói o apartheid ideológico, onde derivam os<br />
preconceitos e os estereótipos. No sistema oficial<br />
de ensino, a onipotência do conhecimento e a<br />
pura abstração que envolve a ciência,se vale da<br />
Revista da <strong>FAEEBA</strong> – Educação e Contemporaneidade, Salvador, número especial, p. 75-94, jul./dez. 2009<br />
Narcimária Correia do Patrocínio Luz<br />
crítica,condenação e o combate incessante aos<br />
discursos míticos e filosóficos. Acrescente-se ainda<br />
que por sua vez o discurso científico cada vez mais<br />
visa atender as demandas da tecnologia e essa, por<br />
sua vez as demandas do produtivismo industrial, de<br />
estimulação militarista, fator de acumulação incessante<br />
do capital financeiro, uma ordem de valores<br />
bem distinta das elaborações sobre o mistério do<br />
existir constituinte dos demais discursos, especificamente<br />
em outros contextos culturais. 3<br />
O mais decepcionante dessa constatação é a<br />
sujeição voluntária de muitos educadores aos discursos<br />
que denegam a possibilidade de afirmação<br />
do princípio de ancestralidade que dinamiza o<br />
estar no mundo de muitas comunalidades de base<br />
africana e aborígine nas Américas. Este tem sido<br />
o nosso maior desafio: penetrar nesses espaços<br />
institucionais oficiais e tentar (des)recalcá-los e (re)<br />
aproximá-los do nosso solo de origem.<br />
Numa entrevista o Professor Márcio Nery de<br />
Almeida, pesquisador do Prodese, indagou-me:<br />
“Como e porque surgiu o Programa Descolonização<br />
e Educação (Prodese)?” Respondi:<br />
Como forma de ação para expandir novos valores<br />
e linguagens emergentes da civilização africanobrasileira<br />
na educação. O Prodese não foi uma escolha.<br />
Foi uma precisão, um caminho necessário para<br />
exatamente transitar, caminhar por territórios outros,<br />
“casa alheia” sem ter de perder a identidade, sufocada<br />
por uma educação neocolonial. Identifico-me<br />
com o campo semântico prenhe dos princípios que<br />
caracterizam a ancestralidade africano-brasileira.<br />
Então quando apelo para o princípio de ancestralidade<br />
estou me referindo aos princípios inaugurais<br />
da existência que irão constituir a fundação de territorialidades,<br />
famílias, instituições, comunalidades,<br />
modos de sociabilidades, inclusive modos de produção,<br />
enriquecidas por valores éticos e estéticos que<br />
asseguram a continuidade de civilização africana.<br />
A ancestralidade carrega os princípios masculinos<br />
e femininos da existência e se perde na noite dos<br />
tempos. (LUZ, N. 2007, p.35-46)<br />
Pois bem, a equipe Prodese dedica-se a apurar<br />
essas abordagens e apontar um outro continente<br />
teórico-epistemológico que transcenda as fronteiras<br />
do recalque e legitime nossas origens.<br />
3 Luz, Marco Aurélio. Entrevista concedida a coordenadora do PRO-<br />
DESE em outubro de 2007.<br />
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