Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb
Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb
Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A pedagogia de Manuel Tranquillino Bastos<br />
No Brasil, as primeiras manifestações de banda<br />
de música são encontradas na Bahia. De acordo<br />
com Almeida (apud KIEFER, 1976, 19):<br />
218<br />
[...] visitando a Bahia, em 16<strong>10</strong>, o francês Pyrard de<br />
Laval cita um potentado de então, cujo nome não<br />
menciona, mas que diz ter sido capitão-general de<br />
Angola, o qual possuía uma banda de música de trinta<br />
figuras, todas negros escravos, cujo regente era um<br />
francês provençal. E como devesse ser melômano,<br />
queria que a todo instante tocasse a sua orquestra, a<br />
acompanhar, ainda, uma massa coral”.<br />
Por outro lado, as Bandas e Filarmônicas funcionavam,<br />
como dito acima, como corporação<br />
musical. Vindas das Irmandades de Santa Cecília,<br />
funcionam ainda, mais adiante no tempo, como<br />
semente das práticas de ajuda mútua 3 . Esse papel<br />
de reserva da cultura popular assumiu dimensões<br />
históricas a partir do século XVIII com a multiplicação<br />
das irmandades cecilianas – de Santa Cecília<br />
- às quais os músicos geralmente se filiavam, mantendo<br />
forte vínculo com as instituições religiosas.<br />
Herdeiras do sistema medieval de organização do<br />
trabalho, as irmandades dos músicos reconheciam<br />
a categoria e esses trabalhadores puderam expandir<br />
suas obrigações além do âmbito da igreja, no<br />
sentido social como no artístico, acrescentando, por<br />
exemplo, obrigações assistencialistas que resultavam<br />
da contribuição de cada um. Era o embrião do<br />
mutualismo, o pré-sindicalismo 4 .<br />
Estas organizações dos músicos tomavam a<br />
forma de irmandades religiosas porque, durante<br />
todo o período colonial, toda forma de organização<br />
social era vedada, a não ser a partir da Igreja<br />
Católica. Isto valeu também para abrigar as juntas<br />
de alforria, citadas por Manoel Querino, assim<br />
como foi o caso da Sociedade Protetora dos Desvalidos,<br />
em Salvador, que começa em 1832 como<br />
Irmandade, com o objetivo de juntar dinheiro para<br />
comprar a liberdade. As Irmandades negras tinham<br />
este papel, visto que as organizações civis eram<br />
vigiadas, para controlar e prevenir sublevações – de<br />
negros contra a escravidão ou de “colonos” contra<br />
o império português.<br />
Durante minhas pesquisas, encontrei referências<br />
à presença de dois tipos de corporações<br />
ligadas e originadas das Bandas e Filarmônicas<br />
no interior da Bahia. A primeira é uma orquestra<br />
constituída somente por mulheres, de nome “Lyra<br />
de Ouro Sobre Azul”, que atuou em fins do século<br />
XIX e início do XX. Essa Orquestra era formada<br />
por flautas, violões, bandolins e bandurras e era<br />
agregada à Filarmônica 30 de Junho da cidade de<br />
Serrinha-Bahia. Para essa formação instrumental<br />
eu encontrei no arquivo da Sociedade Orpheica<br />
Lyra Ceciliana uma obra intitulada “Um Passeio a<br />
Badajoz - Novo Passa-Calle” da autoria de Joaquim<br />
José d’Almeida. A partitura dessa obra indica os seguintes<br />
instrumentos: flautas, violinos, violoncelos,<br />
bandolins, bandoletas (bandurras), violas e violões;<br />
a segunda corporação é a Banda de Música de Gaita<br />
ou simplesmente Banda de Música que é formada<br />
apenas de homens e suas primeiras manifestações<br />
são, aproximadamente, da década de 1920.<br />
Segundo Hortélio (1984, p. 3), que documentou<br />
e estuda essa tradição musical desde 1968, essas<br />
Bandas originaram-se das Bandas de Música e das<br />
Filarmônicas: “As Zabumbas são certamente mais<br />
antigas e delas provavelmente saíram as Bandas<br />
de Música inspiradas nas Bandas de Música da<br />
cidade, embora seu conteúdo musical seja mais<br />
próximo da tradição cultural de origem.” Essas<br />
Bandas também são chamadas de “Banda de Gaita”,<br />
“Bandinha de Gaita” ou “Música de Gaita” e<br />
são formadas por: gaitas, caixa clara, bombo e par<br />
de pratos. “As gaitas são imitações em madeira das<br />
clarinetas existentes nas Bandas e Filarmônicas.<br />
A influência das Bandas e Filarmônicas sobre a<br />
Banda de Gaita pode ser observada também nas<br />
estruturas composicionais das músicas que elas<br />
tocam”. (HORTÉLIO 1984, p. 5).<br />
2.2 O acervo de obras da Coleção Manuel<br />
Tranquillino Bastos<br />
O nosso trabalho de pesquisa principal se deu<br />
no acervo da Coleção Manuel Tranquilino Bastos,<br />
depositado na Biblioteca Pública do Estado da<br />
Bahia. Nela se encontra tudo ou boa parte de tudo o<br />
3 Um dos livros encontrados no acervo de Manuel Tranquilino, o de<br />
Clodomir (ver adiante descrição do mesmo), espécie de manual para a<br />
organização das bandas, fala muito especificamente do papel de ajuda<br />
mútua e de corporação das bandas de música.<br />
4 FIDELIS, Eduardo. O Projeto Bandas de Música no Estado do<br />
Ceará: período de 1996 a 2002. Fortaleza, 2002.<br />
Revista da <strong>FAEEBA</strong> – Educação e Contemporaneidade, Salvador, número especial, p. 213-228, jul./dez. 2009<br />
<strong>FAEEBA</strong> <strong>25</strong> <strong>anos</strong>.indd 218 2/2/2011 13:45:18