Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb
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Universidade, supercomplexidade e desconstrução<br />
onde se avalia a sociedade, e não ao contrario. Claro<br />
que, nesse sentido, há de se alertar, de novo, sobre<br />
os critérios da avaliação: saber se ela é feita com<br />
critérios políticos ou mercadológicos unicamente,<br />
o que poderia restar-lhe justiça à própria avaliação.<br />
O que tem se tornar uma cultura nas universidades<br />
é essa sistemática condição de avaliar-se,<br />
de autoavaliar-se, de criticar-se realmente, onde<br />
todos os atores institucionais possam participar<br />
sem condições previas nas discussões, por mais<br />
contraditórias que sejam as posições, interpretações<br />
ou compreensões postas em jogo.<br />
3.3. A renovação premeditada<br />
“[...] se não se quer tornar uma bola de tênis<br />
jogada de um lado a outro, pelo capitalismo global,<br />
a universidade tem que manter seus objetivos sob<br />
revisão, reafirmando-os continuamente”. (BAR-<br />
NETT, 2002, p. 144).<br />
Para poder fazer isto, e retomando o ponto anterior,<br />
a universidade buscando permanentemente<br />
o debate de sua produção se oferece sem condicionamentos<br />
epistemológicos ao mundo atual em<br />
transformação, e, ao mesmo tempo, para não pecar<br />
de ingenuidade, resiste à intromissão comerciante e<br />
mercante do capitalismo atual, que reduz o conhecimento<br />
ao puro conhecimento técnico-instrumental<br />
vendível. Melhor dito, o conhecimento, como valor<br />
nodal da Universidade Moderna, tem que deixar<br />
de ser o centro da organização da Universidade;<br />
justamente, porque o que deve ser desconstruído é<br />
toda e qualquer forma de conhecer, e, desse modo,<br />
evitar que as formas da produção do conhecimento<br />
técnico do capitalismo e de sua pragmática do<br />
imediato se apoderem, qua formas dominantes,<br />
do conhecer, do saber, do aprender e ensinar etc.<br />
A crítica e a desconstrução necessitam de tempo,<br />
por isso, têm que ser permanentes para não se<br />
consolidarem em formas culturais que não aceitam<br />
o questionamento no mundo atual (fundamentalismos,<br />
tradicionalismos, localismos radicais), e,<br />
ao mesmo tempo, evitar as formas de submissão<br />
mercantil da Universidade.<br />
As universidades privadas pesquisam e têm<br />
que pesquisar e dar serviço direto à comunidade.<br />
E as universidades públicas articulam e têm que<br />
articular, cuidadosamente, mas de forma ousada,<br />
166<br />
uma parte importante de seu financiamento com<br />
empresas privadas ou públicas, porém sem negociar<br />
o ponto fundamental da universidade pós-moderna:<br />
ensinar a ser e ensinar a conhecer, tanto aos estudantes<br />
como ao público em geral, neste mundo de<br />
incerteza e de desconstrução.<br />
A maior aposta da universidade, em relação<br />
com essa regra, é que, como instituição que tende<br />
à supercomplexidade, sua compreensão do capitalismo<br />
cultural atual e das formas como os jovens<br />
estão lidando com essa supercomplexidade, pode<br />
ser de necessária utilidade. Por isso pensamos que<br />
as descrições, que alguns autores fazem desse ser<br />
contemporâneo, poderiam ajudar-nos a entender<br />
essa regra da renovação premeditada. Então,<br />
lembremos de Fredric Jameson, no seu livro “As<br />
sementes do tempo”, descrevendo a nova “ideologia”<br />
ecologista e seus atores, livro no qual termina<br />
fazendo certo elogio ao modo de ser contemporâneo,<br />
quando afirma:<br />
Noções de um novo tipo de autocontrole depois da<br />
Aids, de uma disciplina necessariamente dirigida<br />
para o eu (self) e seus desejos e impulsos; a aprendizagem<br />
de novos hábitos do pequeno, de frugalidade,<br />
modéstia e similares; uma espécie de respeito pela<br />
alteridade que põe barreiras à gratificação: tais são<br />
algumas das idéias e figuras éticas com respeito às<br />
quais uma ecologia (pós-moderna) propõe novas<br />
atitudes em relação ao individual e ao coletivo.“<br />
(JAMESON, 2000, p. 53)<br />
Adultos e jovens, em geral, (mas, sobretudo<br />
jovens), agora valoram certo “minimalismo” relacional,<br />
no sentido de não afetar e não se ver afetados<br />
por ambições desmedidas de possessão material ou<br />
de poder, ao “estilo moderno”, como veremos mais<br />
adiante. E, por outro lado, um deixar-se afetar pelas<br />
diferenças e pelas singularidades, como parte integrante<br />
de sua convivência cotidiana: um deixar vir<br />
o outro sem muitas condições e, ao mesmo tempo,<br />
não aceitando a violência sem mais. 8<br />
8 O problema da violência contemporânea é de outra estirpe que a usualmente<br />
dominante na modernidade: por um lado, existe um estimulo<br />
virtual da violência em todos os terrenos do audiovisual e do gráfico,<br />
o qual não leva necessariamente a uma violência da conduta; mas<br />
por outro lado, existe um incremento da violência nas capas sociais<br />
mais carentes dos bens de supervivência e de consumo. A questão é<br />
que no modelo do ser jovem contemporaneâneo, e em geral, no modo<br />
contemporâneo de ser, a violência não é a prática mais bem “vista”<br />
e aceita, o que não impede que jovens de classe média e média alta<br />
exerçam localmente a violência de modo muitas vezes cruel e bárbaro.<br />
Esse não é um “privilégio” dos pobres.<br />
Revista da <strong>FAEEBA</strong> – Educação e Contemporaneidade, Salvador, número especial, p. 161-176, jul./dez. 2009<br />
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