Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb
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Universidade, supercomplexidade e desconstrução<br />
supercomplexidade é tanto o produto de sua ação,<br />
como Universidade, como efeito de ações sociais<br />
gerais de nossa era que vão além da ação cientificoacadêmica.<br />
Portanto, e seguindo a taxonomia de Ronald<br />
Barnett em seu livro, “Chaves para entender a<br />
universidade numa era de supercomplexidade”,<br />
consideremos, então, visto que há pelo menos seis<br />
conjuntos de regras simples, que a Universidade,<br />
como instituição que tem que se tornar cada vez<br />
mais supercomplexa, necessitaria estimular e fazer<br />
conviver no seu seio para tornar-se, precisamente,<br />
uma organização institucional supercomplexa, porém<br />
singular, aliás, tal e como sempre o tem sido,<br />
historicamente falando.<br />
3.1. A interdisciplinaridade crítica<br />
164<br />
É uma interação na qual se reconhece que, numa era<br />
de supercomplexidade, não há elementos disciplinares<br />
dados, mas que só há, no máximo, formas de<br />
indagação nas quais se misturam muitas e variadas<br />
formas de interesse e propósitos e que, portanto, uma<br />
das tarefas da universidade é a de manter todas as<br />
formas de indagação, de tal modo que dêem de si<br />
seus melhores frutos.” (BARNETT, 2002, p. 141)<br />
Esta primeira regra ou condição se sustenta na<br />
proposta de Lyotard 7 que nos mostra que o saber<br />
pós-moderno é um conjunto flexível de jogos de<br />
linguagem, no qual intervêm determinações locais<br />
e não determinações sistêmicas totalizantes ou<br />
universalizantes. Por isso, a idéia da supercomplexidade<br />
pode ser fecunda num certo sentido:<br />
tem que contemplar e respeitar a singularidade dos<br />
acontecimentos locais da produção do saber, sem<br />
submetê-los à égide de uma meta-narrativa universal.<br />
A Universidade pôde começar a ser concebida<br />
como o espaço desse debate permanente, onde todo<br />
e qualquer saber seja produzido sob o prisma de<br />
seu possível questionamento e refutação. Esta é a<br />
regra de ouro da supercomplexidade, para dizê-lo<br />
com uma ingênua metáfora.<br />
A responsabilidade “epocal” da Universidade<br />
atual estaria, precisamente, em buscar desenvolver<br />
as condições epistemológicas, políticas e institucionais,<br />
para que a produção e a disseminação de<br />
saberes possam conviver num mesmo espaço físico<br />
e simbólico, mas de forma agonística, questionável<br />
e transitória. Derrida, no seu ensaio “As pupilas da<br />
Universidade. O principio de razão e a idéia da<br />
Universidade”, afirma num sentido similar que:<br />
Essa nova responsabilidade de que falo, não se<br />
pode falar dela apelando para ela. Seria a de uma<br />
comunidade de pensamento para a qual a fronteira<br />
entre pesquisa fundamental e pesquisa finalizada não<br />
estaria mais assegurada, em todo caso não mais nas<br />
mesmas condições de antes. Chamo-a comunidade<br />
de pensamento no sentido amplo (at large), e não<br />
de pesquisa, ciência ou filosofia, visto que esses<br />
valores estão geralmente sujeitos à autoridade nãoquestionada<br />
do principio de razão. (DERRIDA,<br />
1999, p. 148).<br />
Duas coisas nos interessam dessa reflexão: a)<br />
a responsabilidade a que Derrida se refere, e que<br />
Barnett retoma na sua segunda proposta, não é uma<br />
responsabilidade moral, mas uma responsabilidade<br />
em termos das possibilidades do responder: ser<br />
responsável hoje em dia é poder responder e deixar<br />
responder, portanto, permitir “sujeitar-se” a um<br />
processo de impugnação, de questionamento, de<br />
falibilidade das proposições e dos argumentos. E, b)<br />
por outro lado, para o que Derrida chama a atenção<br />
também, é para a distinção entre “comunidade de<br />
pensamento” e “comunidade científica ou filosófica”,<br />
pois, nesse sentido, o pensamento é mais amplo<br />
e flexível, suportaria melhor as contradições, os<br />
paradoxos, as aporias, a confrontação sem síntese<br />
pré-fixada etc., do que a submissão imediata ao domínio<br />
do conceito moderno de razão ou ao antigo de<br />
lógos. Portanto, haveria espaço para a experiência,<br />
a experimentação, a sensibilidade, o acontecimento<br />
sem sujeição imediata à guia do Sentido. Mais importante<br />
é poder garantir, parafraseando a Lyotard,<br />
a inclusão sem condições dos participantes do jogo<br />
do pensamento ou da linguagem.<br />
7 LYOTARD, Jean-Francois. La condition postmoderne. Rapport<br />
sur le savoir. Paris : Minuit, 1999. «La société qui vient relève moins<br />
d’une anthropologie newtonienne (comme le structuralisme ou la<br />
théorie des systèmes) et davantage d’une pragmatique des particules<br />
langagières. Il y a beaucoup de jeux de langage différents, c’est<br />
l’hétérogénéité des éléments. Ils ne donnent lieu à institution que<br />
par plaques, c’est le déterminisme local.» (p. 47). Traduzindo: «A<br />
sociedade que vem precisa menos de uma antropologia (como o estruturalismo<br />
ou a teoria dos sistemas) e mais de uma pragmática das<br />
particulas da linguagem. Ha muitos diferentes jogos de linguagem:<br />
é a heterogeneidade dos elementos. Só dão lugar a instituições por<br />
estratos: é o determinismo local”.<br />
Revista da <strong>FAEEBA</strong> – Educação e Contemporaneidade, Salvador, número especial, p. 161-176, jul./dez. 2009<br />
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