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Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb

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Universidade, supercomplexidade e desconstrução<br />

174<br />

mundo e experimentando, então não pode existir<br />

um meta-relato geral – uma visão que englobe a<br />

realidade. O mundo, para os pós-modernos, é uma<br />

construção humana. O criamos com as historias que<br />

inventamos para explica-lo, segundo como elejamos<br />

viver nele, afirmam os semiólogos. Este novo mundo<br />

não é objetivo, mas sim contingente, não se compõe<br />

de verdades, mas sim de opções e possibilidades. É<br />

um mundo criado pela linguagem, unido por metáforas<br />

e significados em consenso e compartilhados,<br />

que vão mudando com o passo do tempo. A realidade<br />

não é uma herança que recebamos, mas sim algo que<br />

criamos inteiramente ao nos comunicar.” (RIFKIN,<br />

2000, p. <strong>25</strong>4-5).<br />

Independentemente de possíveis desacordos<br />

pontuais com alguns aspectos desta reflexão, o<br />

que interessa destacar e resgatar é a atitude que,<br />

no meio deste capitalismo contemporâneo feroz<br />

e voraz, tem que se adotar: procurar expor com<br />

os próprios meios da comunicação pública toda e<br />

qualquer invenção, contribuição, crítica, refutação,<br />

produzida nas universidades, como o modo de garantir<br />

que a mesma não se torne uma simples porca<br />

na engrenagem do cálculo econômico, sejam estas<br />

universidades públicas ou privadas.<br />

A invenção precisa assumir-se em toda sua extensão<br />

radical, de modo que a universidade possa<br />

cumprir sua função pública de comunicar e de dotar<br />

socialmente a todos os membros da sociedade, da<br />

possibilidade do usufruto das descobertas científicas<br />

mais importantes. Diz Lyotard:<br />

O problema é, pois, saber se é possível uma legitimação<br />

que se autorizara unicamente pela paralogia.<br />

É preciso distinguir o que é propriamente paralogia<br />

e que é inovação: esta é controlada, ou em todo caso<br />

utilizada pelo sistema para melhorar sua eficiência;<br />

aquela outra, é uma ‘jogada’, de uma importância<br />

freqüentemente não apreciada no terreno, feita na<br />

pragmática dos saberes; que, na realidade, uma se<br />

transforme na outra é freqüente, mas não necessário,<br />

e não necessariamente incômodo para a hipótese.<br />

Se se parte da descrição da pragmática científica,<br />

o acento deve situar-se, de agora em diante, no<br />

dissentimento. O consenso é um horizonte, nunca é<br />

adquirido. As pesquisas que se fazem sob a égide de<br />

um paradigma tendem a estabilizá-las; são como a<br />

exploração de uma ‘idéia’ tecnológica, econômica,<br />

artística. O que não é muito. Mas surpreende que<br />

sempre venha alguém a desordenar a ordem da<br />

‘razão’. É preciso supor um poder que desestabiliza<br />

as capacidades de explicar e que se manifesta pela<br />

promulgação de novas normas de inteligência ou, se<br />

se prefere, pela proposição de novas regras do jogo<br />

do linguagem científico que circunscrevem um novo<br />

campo de pesquisa. (...) Em si mesmo não carece de<br />

regras (existam classes ou tipos de catástrofes), mas<br />

sua determinação sempre é local. Levada à discussão<br />

científica e situada numa perspectiva temporal, esta<br />

propriedade implica a imprevisibilidade das ‘descobertas’.<br />

(LYOTARD, 1993, p. 128)<br />

Ao que Lyotard nos convidava, já faz mais de <strong>25</strong><br />

<strong>anos</strong>, hoje é uma realidade como tal. A importância<br />

da problemática epistemológica pós-moderna tem<br />

imediatamente repercussão nas dimensões políticas<br />

da questão. Evidentemente, que as teorias da<br />

imprevisibilidade, indeterminabilidade 16 , impugnabilidade,<br />

incerteza 17 etc. põem em jogo um número<br />

maior, e provavelmente cada vez melhor, de atores<br />

que podem participar da produção da pesquisa e<br />

de suas reais possibilidades inventivas. Tal como<br />

Barnett afirma, a comunicação pública e massiva<br />

é parte integrante, hoje, da própria pesquisa: cada<br />

vez mais cientistas, mais meios de comunicação<br />

de massa, investem tempo e dinheiro em explicar<br />

a ciência, suas invenções e descobertas etc., sem<br />

por isso perder necessariamente seriedade e compromisso<br />

epistemológicos.<br />

Embora sejam dois níveis distintos – a paralogia<br />

e a performatividade –, não podem se separar<br />

como vimos anteriormente; uma das exigências<br />

(não chamaríamos mais de “Principio”) da era<br />

16 RIFKIN, Jeremy. Op. Cit. “...os investigadores pós-modernos rejeitam<br />

a própria idéia de uma realidade fixa e conhecível. A primeira<br />

fissura na armadura ilustrada abriu-se no século XX, quando o cientista<br />

alemão Werner Heisenberg introduziu a idéia de indeterminação no<br />

debate científico. Segundo o principio de indeterminação de Heisenberg,<br />

é impossível que exista um observador imparcial que registre<br />

objetivamente os segredos da natureza – pressuposto central do método<br />

científico baconiano. O próprio ato de observar implica o observador<br />

com o objeto de estudo, influenciando nos resultados. Heisenberg<br />

demonstrou que todo o que fazemos, inclusive nossas observações,<br />

têm conseqüências. Longe de ser objetivo, cada ser humano é tanto<br />

observador como participante, influi e recebe influencia do mundo<br />

que tenta manipular.” (p. <strong>25</strong>2).<br />

17 PORTER, Luis. La Universidad de papel. Ensayos sobre la educación<br />

superior en México. México: UNAM, 2003. “Vivemos numa<br />

época em que a formação de conceitos mudou. Época de incerteza.<br />

Já não existe a idéia de progresso, nem de salvação. Não há leis na<br />

historia. O determinismo de Einstein foi superado pela incerteza de<br />

Bohr, tanto na física como no mundo social. O que conquistamos hoje<br />

retrocede amanhã, obrigando-nos a refazer cada dia o passo dado.<br />

Estamos numa era onde a globalização não é o objeto de consumo que<br />

cremos poder comprar por Internet. A globalização é uma metáfora do<br />

que podemos entender como a era planetária.“ (p. 185).<br />

Revista da <strong>FAEEBA</strong> – Educação e Contemporaneidade, Salvador, número especial, p. 161-176, jul./dez. 2009<br />

<strong>FAEEBA</strong> <strong>25</strong> <strong>anos</strong>.indd 174 2/2/2011 13:45:13

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