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Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb

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Novo enfoque dos estudos internacionais<br />

ainda que em ambos os casos se registram situações<br />

localizadas de colonialismo interno, suporte<br />

político-social de racismo e/ou dependência,<br />

dois fatores onde existem constantes interações<br />

nacional-internacional, com elevados riscos de<br />

antagonismo violento e sua difusão.<br />

Maquiavel chamava a atenção do seu príncipe<br />

para os riscos que podiam vir dos príncipes vizinhos,<br />

mas já antes disso Aristóteles fez reflexões<br />

próximas do tema, enquanto que os debates do Senado<br />

romano incidiam com frequência sobre o que<br />

se passava entre os bárbaros ou em Cartago, ambos<br />

vistos como riscos maiores para o Império.<br />

A história pré-colonial das Américas e da África<br />

revela que todas as pequenas comunidades (ou préestados)<br />

se inquietavam sempre que algum vizinho<br />

ganhava poder, porque em geral isso conduzia a<br />

operações expansionistas, para capturar escravos<br />

ou ocupar terras mais férteis. As vitórias de um<br />

corpo guerreiro contra um determinado inimigo<br />

incitavam sempre a ataques contra outros, sobretudo<br />

contra os mais fracos.<br />

O maior risco em qualquer relação social é ser<br />

fraco. Quando essa relação se passa a nível político,<br />

econômico ou cultural – seja local, nacional<br />

ou internacional – o risco entra na categoria de<br />

“grande perigo”.<br />

A fraqueza interna, ontem como hoje, expõe à<br />

dominação nas relações internacionais, sob formas<br />

diversas. Foi ela que facilitou o colonialismo, e a<br />

maior parte dos regimes pós-coloniais afric<strong>anos</strong><br />

acentuaram-na.<br />

O historiador camaronês Mbembe (1988, p.<br />

128) define a maioria dos Estados pós-coloniais<br />

afric<strong>anos</strong> como “Estado-teólogo”, na medida em<br />

que não se preocupam apenas com as questões<br />

de poder político, arranjos econômicos, relações<br />

sociais, mas aspiram também “a definir para os<br />

agentes sociais, a maneira como devem se ver, se<br />

interpretar e interpretar o mundo”, ou seja, visão totalitária.<br />

Na prática, este objetivo conduziu a que:<br />

200<br />

[...] de forma desproporcional, grupos restritos açambarcaram<br />

recursos disponíveis, deixando a maioria<br />

da população num estado de fome e doença crônica.<br />

O álibi da “subversão” permitiu condenar à reclusão<br />

a maior parte dos que pensam diferente [...] a farsa<br />

que representa o culto á personalidade dos déspotas<br />

negros, a pretensão do Estado a fazer admitir, se<br />

necessário pala violência, que ‘toda a verdade vem<br />

do alto’, foi recebida com desdém e mais cinismo.<br />

(MBEMBE, 1988, p.128).<br />

A queda do muro de Berlim teve na África<br />

um efeito devastador contra esse tipo de regimes,<br />

desencadeando a chamada “segunda Independência”,<br />

quer dizer a democratização. Um efeito de<br />

contagio que, neste caso, veio do internacional para<br />

o nacional, ainda que se trate de um nacional que<br />

se “continentalizou”. A mensagem que pesou na<br />

África do começo dos <strong>anos</strong> 1990 foi a reivindicação<br />

democrática, até porque nos círculos das oposições<br />

africanas fazia-se sempre um paralelo entre regimes<br />

de partido único, de qualquer continente.<br />

Pouco mais de uma década depois, novos<br />

“pactos de elite” – noção usada por O’Donnell<br />

e Schmitter no estudo das transições a oeste, nos<br />

<strong>anos</strong> 1970 – forçaram passagens do totalitarismo<br />

ao autoritarismo disfarçado em muitos dos países<br />

da África, tornando de novo atuais as análises de<br />

Mbembe, com duas diferenças: um bloco da ordem<br />

da dezena de países democratizou-se e, em quase<br />

todos os outros, há resistências explicitas, o que<br />

gera conflitos de todos os tipos, do social amplo<br />

ao sectário.<br />

A noção de conflito refere-se a choque de interesses.<br />

Estes podem ser encaminhados de forma<br />

pacífica através de instituições e, nesse sentido, a<br />

democracia é uma estrutura de resolução pacífica<br />

de conflitos. O seu oposto, a ditadura, é imposição<br />

de uma autoridade que resolve os conflitos sempre<br />

a favor de um determinado segmento.<br />

Acrescem as disparidades entre os países desenvolvidos<br />

e os subdesenvolvidos, quer se trate<br />

de emergentes ou “menos avançados” (PMA),<br />

a noção de subdesenvolvimento significando<br />

insuficiente aproveitamento das possibilidades<br />

técnicas na construção do tecido econômico de<br />

um país ou de uma sociedade e, ao mesmo tempo,<br />

mecanismos sociais geradores de desigualdade de<br />

oportunidades.<br />

As desigualdades internas ou internacionais<br />

introduzem conflitos nos processos de desenvolvimento,<br />

intra-Estado e inter-Estados, em torno<br />

de prioridades, oportunidades e instituições. A<br />

intensidade “dos conflitos dependerá em grande<br />

parte da pressão do ambiente econômico futuro<br />

e [...] se no futuro ele for favorável não haverá<br />

Revista da <strong>FAEEBA</strong> – Educação e Contemporaneidade, Salvador, número especial, p. 197-204, jul./dez. 2009<br />

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