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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

Basea<strong>do</strong> em levantamentos estatísticos na Rússia, desde 1870, Chayanov formulou<br />

sua teoria sobre o campesinato partin<strong>do</strong> da distinção entre um mo<strong>do</strong> de<br />

produção <strong>do</strong>méstico em contrapartida às sociedades escravistas, feudais e capitalistas.<br />

Assim, o modelo chayanoviano centrava-se no grupo <strong>do</strong>méstico individual,<br />

cujo objetivo seria garantir a satisfação de determinadas necessidades compreendidas<br />

como básicas, e não para a obtenção de lucro, razão pela qual o campesinato<br />

não deveria ser considera<strong>do</strong> como uma forma de capitalismo incipiente. Nestes<br />

termos, a unidade camponesa, compreendida por ele, seria concomitantemente<br />

unidade de produção e unidade de consumo.<br />

O grupo <strong>do</strong>méstico era toma<strong>do</strong> como um to<strong>do</strong> e a categoria trabalho era ressignificada<br />

como indivisível e não fragmentada em salários. Nestes termos, foi<br />

criada uma teoria da economia familiar, alicerçada no suposto equilíbrio entre<br />

consumi<strong>do</strong>res/produtores, entre a ‘satisfação das necessidades familiares’ e a penosidade<br />

<strong>do</strong> trabalho.<br />

Chayanov acompanha a “história natural” da família desde o casamento, ao<br />

longo da chegada <strong>do</strong>s filhos à idade produtiva, até o casamento da segunda geração.<br />

E é neste ínterim que ele elabora o conceito de “diferenciação demográfica”<br />

que não se confunde com diferença de classes, mas que traz uma nova perspectiva<br />

para o estu<strong>do</strong> da dita economia familiar para a época.<br />

Outrossim, a unidade de trabalho familiar só consideraria vantajoso o investimento<br />

de capital caso este possibilitasse um nível de bem-estar mais eleva<strong>do</strong>; de<br />

outro mo<strong>do</strong>, restabeleceria o equilíbrio entre penosidade <strong>do</strong> trabalho e satisfação<br />

da demanda.<br />

Desse mo<strong>do</strong>, a lógica da atividade econômica camponesa é distinta e mesmo<br />

oposta àquela da economia capitalista. Porém, uma outra premissa, e que considero<br />

basilar para a compreensão <strong>do</strong> discurso sobre o corpo da mulher camponesa,<br />

se estrutura em sua teoria, a “natureza biológica” da família.<br />

É a suposta “natureza biológica” da família que determina as leis de sua composição,<br />

e conseqüentemente as leis da economia camponesa como um to<strong>do</strong>. Portanto,<br />

pela “lei de Chayanov” (Woortmann, 2001) a família incluiria unidade de consumo<br />

e unidade de produção em que o grupo <strong>do</strong>méstico se caracterizaria pelo número<br />

de consumi<strong>do</strong>res com o de produtores, assim como o tamanho da família.<br />

E é esse ranço teórico que se replica na construção da ordem <strong>do</strong> discurso sobre<br />

a sexualidade camponesa até os dias atuais como veremos à frente.<br />

Por sua vez, influencia<strong>do</strong> pelo modelo (ranço) chayanoviano, Jerzy Tepicht<br />

(1973), ao analisar o campesinato polonês, percebe o caráter familiar da economia<br />

camponesa como uma vérité première da qual decorreria a relação com os fatores<br />

de produção e com o merca<strong>do</strong>, e a relação entre o trabalho e sua remuneração.<br />

Enquanto Chayanov privilegiou a dicotomia consumi<strong>do</strong>res/produtores, Tepicht,<br />

por sua vez, relativiza-a.<br />

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