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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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10<br />

n e a D e S p e C i a l<br />

Campesinato e sexualidade<br />

estrutural: Wolf e Mendras<br />

Eric Wolf (1970), ao tratar <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> matrimonial em sociedades camponesas,<br />

afirma que o casamento possibilita a satisfação sexual <strong>do</strong>s camponeses, e as<br />

relações dentro dessa unidade geram afeições que ligam to<strong>do</strong>s os membros<br />

entre si.<br />

Em sua tentativa de se distanciar de uma ordem econômica para o campesinato,<br />

mas embebi<strong>do</strong> também pelo ranço chayanoviano, Wolf apregoa e avança<br />

ao constatar que o camponês não realizaria um empreendimento no senti<strong>do</strong><br />

econômico, mas ele sustentaria uma família e não uma empresa.<br />

Assim, o camponês procuraria organizar seu cotidiano por meio de gastos,<br />

que para o autor seriam necessários para a restauração de sua subsistência,<br />

como para a produção e para o consumo, eis o que ele conceitua como fun<strong>do</strong><br />

de manutenção.<br />

Por sua vez, ao pensar nos tais “excedentes sociais,” Wolf discorre sobre o fun<strong>do</strong><br />

cerimonial. Assim, se o camponês tem pretensões em participar das relações<br />

sociais, e aqui acresço relações no âmbito oficial, deverá trabalhar para a criação<br />

de um fun<strong>do</strong> visan<strong>do</strong> às despesas por tais atividades.<br />

O camponês seria concomitantemente um agente econômico e “o cabeça” de<br />

uma família. Sua propriedade tanto seria uma unidade econômica como um lar.<br />

Ao tratar da dinâmica da categoria família o autor ainda infere que ela seria “a<br />

mais restrita e íntima unidade que vive o camponês.” (Wolf, 1970, p. 88).<br />

Ao analisar o papel sexual da mulher camponesa, Wolf argumenta que ele<br />

estaria subordina<strong>do</strong> a um sistema de autoridade centraliza<strong>do</strong> no macho, como<br />

prevalece, segun<strong>do</strong> o sociólogo, entre a maioria <strong>do</strong>s camponeses, pois como ele<br />

categoricamente afirma: “…as mulheres devem aprender a ajustar seus desejos<br />

aos desejos prioritários de seus mari<strong>do</strong>s…” (id., p. 97)<br />

Na esfera cerimonial, Wolf afirma que sua dinâmica seria responsável pelas<br />

recompensas para as condutas apropriadas quanto pelas sanções e penas para as<br />

irregularidades.<br />

Portanto, em sociedades camponesas, o cerimonial giraria em torno da unidade<br />

<strong>do</strong>méstica, manipulan<strong>do</strong> o pretenso controle das tensões que surgem no<br />

decorrer das ações. Ele existiria, segun<strong>do</strong> Wolf, para sustentar e unir conjuntos<br />

de atores que, sem isso, poderiam decair e buscar identidades sociais separadas.<br />

Em tais sociedades, os indivíduos agiriam dependentes mutuamente, o que lhes<br />

daria um senso de continuidade que torna a vida praticável e significativa.<br />

A título de exemplificação, ao pensar nas tradições religiosas no campo, imersas<br />

nas ações cerimoniais, Wolf acentua a eficácia simbólica das sanções sobrenaturais<br />

para as “condutas desviantes.” Neste senti<strong>do</strong>, ele demonstra a ênfase destas

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