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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

Vimos que, mesmo os homens sen<strong>do</strong> responsáveis pelo <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>,<br />

há uma lógica econômica marcada por valores como honra, relações de parentesco<br />

e vários níveis de reciprocidade que ganham lugar na esfera <strong>do</strong>s negócios.<br />

Percebemos também a lógica das trocas, que operam com mais eficácia no que<br />

se refere à reordenação <strong>do</strong>s laços de parentesco das praças de feiras, se sobrepor<br />

ao espaço da Ceasa. A resolução de conflitos familiares se articula com os valores<br />

da sociabilidade camponesa no interior <strong>do</strong> próprio merca<strong>do</strong>.<br />

O merca<strong>do</strong> como lugar masculino, ao mesmo tempo que explicita a divisão<br />

social <strong>do</strong> trabalho no interior da casa camponesa, o papel da autoridade masculina,<br />

também mostra o teor de conflito e os excessos na ordem familiar. Neste senti<strong>do</strong>,<br />

o merca<strong>do</strong> espelha o conflito e as ambigüidades existentes no mun<strong>do</strong> camponês<br />

e as possibilidades de transformação.<br />

De acor<strong>do</strong> com Segalen (idem, p. 167),<br />

a cultura camponesa reconhece que a reputação da casa recai sobre o homem e a mulher,<br />

cujas tarefas e os papéis são complementares, solidários e estreitamente imbrica<strong>do</strong>s. Isto<br />

está longe da imagem de uma mulher dependente e inferiorizada. Entretanto, to<strong>do</strong> o<br />

discurso é apresenta<strong>do</strong> sob a autoridade masculina e a subordinação feminina. Canções,<br />

provérbios e dita<strong>do</strong>s criam uma imagem distante da prática <strong>do</strong>s comportamentos.<br />

Mesmo que canções e provérbios mostrem uma imagem distanciada da complexidade<br />

das relações sociais, esses elementos não deixam de revelar o controle<br />

social sobre as regras fundamentais na manutenção da casa camponesa.<br />

Superstições, saberes mágicos e liminaridade<br />

Segun<strong>do</strong> Klaas Woortmann (1986, p. 105),<br />

a comida é uma categoria nucleante e hábitos alimentares são textos. Quan<strong>do</strong> se classi-<br />

ficam alimentos, classificam-se pessoas, notadamente os gêneros homem e mulher, pois,<br />

se o alimento é percebi<strong>do</strong> em sua relação com o corpo individual, este é uma metáfora<br />

<strong>do</strong> corpo social.<br />

Parafrasean<strong>do</strong> o autor, conhecen<strong>do</strong> os hábitos e a culinária pomeranos, conhecemos<br />

também “identidades e etnocentrismos.” Destacamos a importância de<br />

<strong>do</strong>is alimentos e sua preparação para pensarmos a relação entre o gênero feminino<br />

e a construção <strong>do</strong> ethos camponês: o preparo <strong>do</strong> pão e o plantio <strong>do</strong> aipim.<br />

Fazer pão e plantar aipim são tarefas femininas. A associação entre o pão e<br />

a figura feminina carrega um significa<strong>do</strong> étnico e social. O pão é considera<strong>do</strong><br />

o alimento que melhor representa, na memória <strong>do</strong>s descendentes imigrantes

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