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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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1<br />

n e a D e S p e C i a l<br />

quan<strong>do</strong> o fazendeiro permitia o uso da terra sem importunar os mora<strong>do</strong>res, eram<br />

tempos de permanente dependência e insegurança.<br />

Assentada: Quieta moça! Não pode nem comparar os momento, nós sofria demais<br />

mesmo. (…) Aí a gente tinha a terra livre, só que eu não sei lá, parece que a gente era<br />

mais pobre. A gente fazia as roça, mas parece que não tinha a capacidade de sair e fazer<br />

as roça igual agora. Eu não sei se é porque a gente também não tinha a experiência de<br />

fazer mais coisas, igual a mandioca. A mandioca nós fazia só mesmo a farinha, não fazia<br />

outra coisa. Hoje nós, nós da mandioca nós faz o beiju igual você tá ven<strong>do</strong> aí, faz a puba,<br />

faz a goma seca pra fazer o biscoito, faz a farinha, tu<strong>do</strong> enfins faz. E antigamente ninguém<br />

descobria essas forma de crescer mais.<br />

No processo de conquista e apropriação da terra o sentimento de liberdade<br />

impulsiona a geração de novas capacidades e experiências, que articuladamente,<br />

resultam na possibilidade de criar e recriar as condições para produzir, trabalhar<br />

e viver com dignidade. Para uma assentada que chegou com a família após a criação<br />

<strong>do</strong> assentamento, mesmo com a falta de água e a moradia de pau-a-pique, a<br />

vida no assentamento nem se compara aos duros tempos de sujeição <strong>do</strong> trabalho<br />

na carvoeira. Trabalho força<strong>do</strong>, sacrifican<strong>do</strong> crianças e adultos, para garantir o<br />

mínimo da sobrevivência restrita à comida de cada dia.<br />

Assentada: Só pra comer. Não dava pra outra coisa, só pra comer. (…) Hoje que nós<br />

tem um pouquinho mais de recurso. Pelo menos tá moran<strong>do</strong> no que é da gente. Tem o<br />

gadinho da gente, tem o lugarzinho da gente sossega<strong>do</strong>.<br />

O perío<strong>do</strong> anterior à criação <strong>do</strong> assentamento é lembra<strong>do</strong> como um tempo<br />

em que homens e mulheres tinham sua vida social restrita à comunidade, onde<br />

viviam isola<strong>do</strong>s, sem comunicação com o mun<strong>do</strong> externo. Essa situação de isolamento<br />

era quebrada somente pela necessidade de provimento, através da compra,<br />

venda, ou mesmo troca de produtos essenciais à sua sobrevivência. Nessas<br />

circunstancias a feira consistia praticamente no único lugar freqüenta<strong>do</strong> na sede<br />

<strong>do</strong> município, e ainda assim com maior freqüência pelos homens.<br />

As narrativas nos remetem a um tempo em que os antigos mora<strong>do</strong>res, agrega<strong>do</strong>s,<br />

desfrutavam de uma sociabilidade estável e pouco dinâmica, em um campo<br />

bem delimita<strong>do</strong>, próprio a comunidades e economias fechadas, como as descritas<br />

por Cândi<strong>do</strong> (2003). Os hábitos, costumes e formas de interação, relembra<strong>do</strong>s<br />

pelos assenta<strong>do</strong>s e assentadas deixam entrever semelhanças com comunidades<br />

primitivas, origens e heranças indígenas tornadas patrimônio cultural <strong>do</strong>s agrega<strong>do</strong>s<br />

daquelas fazendas. Na trajetória coletiva não somente fortalecem os vínculos<br />

na comunidade, como constroem vínculo social. A interação com o mun<strong>do</strong>

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