18.04.2013 Views

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

8<br />

n e a D e S p e C i a l<br />

As falas citadas acima, somadas à jocosidade e ambigüidade que marcam os<br />

discursos pela disputa da autoridade entre homens e mulheres nos ritos de casamento<br />

e morte, enunciam o grau <strong>do</strong>s conflitos existentes no interior da land. As<br />

disputas não apenas se referem à questão <strong>do</strong> gênero, mas também dizem respeito<br />

à disputa entre herdeiros e não-herdeiros e entre aqueles que acumularam ou não<br />

maiores recursos no interior da land. A inter-relação entre os provérbios aponta<br />

para a recorrência da narrativa mágica da bruxaria como forma de expressão <strong>do</strong><br />

conflito (To<strong>do</strong>rov, 1980).<br />

Neste senti<strong>do</strong>, o discurso das acusações de bruxaria evidencia o grau de conflitos<br />

causa<strong>do</strong>s pelas suas diferenças internas e sua importância na complexa<br />

elaboração da condição pomerana.<br />

Além <strong>do</strong>s ditos populares, cabe ressaltar a importância, das mulheres como<br />

detentoras <strong>do</strong> saber mágico, como narra<strong>do</strong>ras da memória <strong>do</strong> grupo e principal<br />

alvo de acusações de bruxaria na comunidade.<br />

A comparação <strong>do</strong> discurso da bruxaria com a lógica da guerra (Favret-<br />

Saada,1977) evidencia um gênero <strong>do</strong> discurso que melhor expressa as ambigüidades<br />

e problemas cotidianos na construção <strong>do</strong> ethos camponês. As metáforas da<br />

narrativa da magia são interpretações <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> social camponês (Danton,1986).<br />

O narra<strong>do</strong>r tem o poder de transmitir e partilhar as palavras com a sociedade que lhe<br />

confere autoridade diante da consciência da existência da morte (Benjamin, 1918).<br />

Há uma relação estreita entre bruxaria e benzedura, pois esta última é o ofício<br />

da benzedeira que procura desfazer o mal causa<strong>do</strong> por aquele que fez bruxaria.<br />

O estu<strong>do</strong> das palavras usadas nas fórmulas mágicas para a cura das <strong>do</strong>enças<br />

e esterilidade de animais, plantas e homens expressan<strong>do</strong> infortúnios e a sua<br />

repetição mostra que as “palavras fazem a guerra” significan<strong>do</strong> atos de poder<br />

(Favret-Saada, idem, p.9).<br />

Apesar de ambas serem linguagens que lidam com os infortúnios, temos na<br />

literatura sobre bruxaria a distinção entre atos de feitiçaria e de bruxaria (Evans<br />

Pritchard, 1978; Maluf, 1993 ; Favret-Saada, ibid).<br />

Para Evans Pritchard (1978), a feitiçaria seria uma magia instrumental e a<br />

bruxaria, uma magia operacional sem ajuda de nenhum material. O autor mostra<br />

que “os Azande acreditam que algumas pessoas são bruxas e podem prejudicá-los<br />

em virtude de uma qualidade herdada. Uma bruxa atua sem ritos, não pronuncia<br />

fórmulas mágicas e não usa medicamentos. Um ato de bruxaria é um ato<br />

psíquico.”Há expressões em pomerano que se referem ao ato de bruxaria, isto é,<br />

ao desejo de causar o mal através <strong>do</strong> olhar, associan<strong>do</strong>-a ao mau-olha<strong>do</strong>.1 O mauolha<strong>do</strong><br />

também constitui parte <strong>do</strong> universo da bruxaria, pois, além das palavras,<br />

o uso <strong>do</strong> olhar denuncia a atuação da “bruxa.”<br />

eis algumas: anheksa (fazer bruxaria), andaua (enfeitiçar com o olhar) e oiwarkijka (ver com<br />

mau-olha<strong>do</strong>).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!