18.04.2013 Views

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

que já tinha um arrozinho, a gente quebrava coco só pra nós, pra comprar roupa,<br />

esmalte, coisa de cabelo.”<br />

O fato é que não existem espaços sociais fixamente delimita<strong>do</strong>s em Monte<br />

Alegre. Há uma separação que serve de referência para identificar “ser mulher” e<br />

“ser homem” nesse campo vivencial, porém as relações que lá se estabelecem são<br />

tão flexíveis quanto complexas.<br />

Do material ao simbólico:<br />

a relação com os babaçuais<br />

As experiências <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res rurais de Monte Alegre refletem a importância<br />

da extração <strong>do</strong> coco babaçu na vida de muitas famílias. Essa importância se<br />

encontra diretamente ligada ao valor que o extrativismo adquire na subsistência<br />

diária, entretanto, o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> babaçu na vida dessas pessoas toma dimensões<br />

não somente econômicas, mas também socioculturais, não somente materiais,<br />

mas também simbólicas.<br />

A esfera material da experiência: os<br />

babaçuais como recurso à sobrevivência<br />

A atividade extrativista tem si<strong>do</strong> condição principal para a sobrevivência daqueles<br />

trabalha<strong>do</strong>res rurais, pois, como relata Cleonice de Andrade, “[…] muita gente<br />

vive <strong>do</strong> babaçu, quebrar, vender.” Lindalva Cruz também pontua: “A gente quebra<br />

esse coco é porque a gente é pobre e a gente precisa ter as coisa […] tiran<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

coco é a roça.” E ainda, Maria R. <strong>do</strong>s Santos, diz que o babaçu “[…] é tu<strong>do</strong> porque<br />

sem ele a gente não é nada […] pro sustento, comprar o açúcar, o café, porque<br />

assim, a gente não tem nenhum emprego aí quebra o galho da gente.”<br />

As mulheres retratam as dificuldades de extração <strong>do</strong> coco e, mesmo sen<strong>do</strong><br />

uma tarefa árdua e sofrida, algumas cultivam um certo prazer em realizá-la, posto<br />

que, segun<strong>do</strong> Josefa de Miranda, a atividade “É […] muito útil, porque eu sempre<br />

falo que a gente tem que amar aquele trabalho que foi servi<strong>do</strong> pra gente. Muito<br />

cansativo, mas muito útil.”<br />

Antigamente, era mais comum mulheres quebrarem o coco umas junto das<br />

outras em áreas de babaçuais. Quan<strong>do</strong> crianças (meninos e meninas), aprendiam<br />

aquela tarefa, sobretu<strong>do</strong> com suas mães e avós, como Rosa de Lima: “Comecei<br />

quebrar coco bem novinha, logo minha mãe não tinha, meu pai também num<br />

tinha [recursos financeiros] […] nós rodamos [Rosa e sua mãe] dentro <strong>do</strong> mato,<br />

ela me ensinava quebrar coco.”<br />

Algumas delas, em menor número, não foram diretamente ensinadas a quebrar<br />

o coco, mas na rede de sociabilidade com as demais mulheres foram aprenden<strong>do</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!