Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
1 0<br />
n e a D e S p e C i a l<br />
A experiência com o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s direitos em sua dimensão material e subjetiva<br />
é protagonizada na trajetória de luta pela terra, quan<strong>do</strong> a situação original<br />
de marginalização e exclusão é transformada em novas condições de vida, e diferentes<br />
mo<strong>do</strong>s de sentir, pensar e agir. Assim têm lugar mo<strong>do</strong>s de existência e<br />
práticas sociais em que se destacam os sentimentos de cuida<strong>do</strong> com a qualidade<br />
da existência individual e coletiva, a solidariedade, os sentimentos de pertença,<br />
a construção de vínculos e a responsabilidade com o coletivo.<br />
O que se apresenta não é uma nova ordem ou estabilidade, mas uma dinâmica<br />
de reciprocidades com novas aberturas para a alteridade. Trata-se de um<br />
campo identitário, também fonte de sentimentos de justiça e igualdade, de uma<br />
nova cultura política, ou ainda, de novas cidadanias. Ao contrário de uma essência<br />
universal, esse significa<strong>do</strong> de cidadania nos remete a um contexto específico<br />
que integra interesses e práticas concretas, construí<strong>do</strong> na esteira <strong>do</strong>s conflitos,<br />
interesses e lutas políticas (Dagnino, 2000:84). Dessa perspectiva, cidadania<br />
é construção, situada e datada, que articula aspectos psicossociais, engendra subjetividades<br />
e processos emancipatórios protagoniza<strong>do</strong>s por atores sociais, num<br />
campo de interesses e conflitos plurais.<br />
Cidadania é o mais possível. A força dessa expressão proferida por um assenta<strong>do</strong><br />
sugere a transcendência de limites e to<strong>do</strong> um processo de aprendiza<strong>do</strong>s e<br />
construções realizadas na ação coletiva onde emergem e dialogam subjetividades<br />
que se traduzem em novos repertórios de significa<strong>do</strong>s. Para além de uma relação<br />
vertical com o Esta<strong>do</strong> circunscrita a direitos e deveres, trata-se de relações de<br />
horizontalidade, entre assenta<strong>do</strong>s e assentadas, cidadãos e cidadãs, onde se realiza<br />
o princípio da comunidade e os senti<strong>do</strong>s de igualdade sem mesmidade, autonomia e<br />
solidariedade. Com isso não se nega a importância das conquistas da cidadania<br />
civil, política e social, mas antes, se reconhece que não sen<strong>do</strong> estas irreversíveis,<br />
e tampouco plenamente realizadas, conduzem a novas lutas e novas formas de<br />
cidadania (Santos, 1997: 278).<br />
As mudanças na vida de homens e mulheres assentadas são atribuídas ao<br />
processo de lutas e organização, mas também às leis que proclamam a liberdade<br />
e igualdade para to<strong>do</strong>s.<br />
Assenta<strong>do</strong>: Pois é, mas a gente muda é por vivência devi<strong>do</strong> à organização das leis<br />
mesmo, da luta. Mudança de vida, da organização da lei, e organização das lutas. Porque<br />
lutan<strong>do</strong> é que a pessoa vai entenden<strong>do</strong> qual é o motivo das leis, qual é a moral das leis. é<br />
lutan<strong>do</strong>. É por isso que a pessoa tem que mudar. O homem de qualquer maneira pode<br />
se mudar, eu não vou dizer nós, mas tem muito homem hoje no Brasil que é machão,<br />
mas é machão mesmo (…) Como hoje nós no caso, (?) o homem hoje não pode ser<br />
machão em nada. Nada, em nada ele não pode ser machão. Um pouco a história <strong>do</strong>s<br />
antigos fala, não tem pau que não topa macha<strong>do</strong> e não tem macha<strong>do</strong> que não topa pau.