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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

“desempoderadas” na relação com os novos <strong>do</strong>nos da terra, que já foi sua terra, ou<br />

melhor terra de todas(os).<br />

Nestes quarenta anos [1950 a 1990] o acesso aos babaçuais foi sen<strong>do</strong> mais e mais limita<strong>do</strong>,<br />

quan<strong>do</strong> não eles próprios foram sen<strong>do</strong> devasta<strong>do</strong>s e substituí<strong>do</strong>s por pastagens artifi-<br />

ciais. Na memória camponesa o coco era liberto e neste quadro em que lhes é cercea<strong>do</strong> o<br />

direito de coleta, não lhes permitin<strong>do</strong> livre acesso às terras públicas e privadas onde há<br />

incidência de babaçuais, as quebradeiras o representam através da imagem <strong>do</strong> coco preso.<br />

(Almeida, 1995: 26)<br />

Com a clausura <strong>do</strong> coco dentro das cercas, as mulheres entram numa nova<br />

relação de dependência e subordinação e, juntamente com suas famílias, num<br />

processo de empobrecimento. Para acessar as palmeiras, dentro das cercas, as<br />

mulheres tinham de se sujeitar a relações comerciais injustas com o fazendeiro:<br />

metade de toda a produção de amên<strong>do</strong>as ficava para o fazendeiro em troca <strong>do</strong><br />

acesso a sua terra, a outra metade tinha de ser vendida na loja da fazenda a preços<br />

injustos e em troca de produtos e não de dinheiro.<br />

Ainda nos anos 1970, iniciam-se no Maranhão as atividades extrativas e de<br />

beneficiamento da madeira, o que favorece o desmatamento das florestas naturais<br />

e secundárias <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, juntamente com a atividade agropecuária e as<br />

monoculturas que demandam grandes porções de terra desmatada. A construção<br />

das ferrovias Carajás e Norte- Sul, as queimadas e a fabricação de carvão vegetal<br />

para as usinas de guza, são outras atividades que contribuem para o forte desmatamento<br />

ocorri<strong>do</strong> no esta<strong>do</strong>. Entre 1980 e 1995 o censo agropecuário registra uma<br />

diminuição de 58 mil hectares de matas e florestas naturais.<br />

O desmatamento das fazendas para abrir espaço para o ga<strong>do</strong> soma-se à exploração<br />

realizada pelo fazendeiro, <strong>do</strong> trabalho das mulheres, em troca <strong>do</strong> acesso<br />

ao recurso natural babaçu, através da barreira cerca. As mulheres são ainda, em<br />

alguns casos, obrigadas a plantar forragem (além de deixarem metade da sua<br />

produção) em troca <strong>do</strong> acesso às palmeiras e, por vezes, devi<strong>do</strong> à falta de “oportunidades<br />

econômicas”10 na região, seus mari<strong>do</strong>s e vizinhos vêem-se obriga<strong>do</strong>s a<br />

trabalhar nas atividades de desmatamento das palmeiras nas terras <strong>do</strong> fazendeiro,<br />

em troca de espaço para “colocar sua roça.”<br />

A agonia provocada pelo som das palmeiras “degoladas” atingin<strong>do</strong> o chão levou<br />

a uma reação por parte das mulheres que iniciaram um processo de resistência<br />

8 Feitosa ( 99 ) op cit.<br />

9 lemos, J. J. S. Radiografia ambiental, social e econômica <strong>do</strong> Maranhão: instrumento para construir<br />

uma agenda que promova o desenvolvimento sustentável para o esta<strong>do</strong> no próximo milênio.uma<br />

contribuição para o Fórum Social Brasil XXi. (texto preliminar para discussão). Julho de 999.<br />

0 Sen, a. K. <strong>Desenvolvimento</strong> como liberdade. São paulo: Companhia das letras, 2000.<br />

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