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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

segun<strong>do</strong> Marx, constitui-se numa progressiva humanização da mesma. Não existe,<br />

portanto, dentro dessa perspectiva, uma natureza em si. Conforme lembra Lenoble<br />

(1990), “na natureza, os primitivos procuravam compreender a vontade <strong>do</strong>s deuses<br />

<strong>do</strong> mar, <strong>do</strong>s vulcões e <strong>do</strong>s rios; Aristóteles, uma hierarquia de formas organizadas;<br />

Descartes e os modernos, as alavancas de uma máquina em que tu<strong>do</strong> se passa por<br />

número e movimento” (Lenoble, 1990: 17). Segun<strong>do</strong> destaca Brüseke (1997), a<br />

técnica moderna expressaria a mesma tentativa de estabilizar o ritmo <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

pelo <strong>do</strong>mínio das irregularidades e exceções, presentes nas práticas mágicas<br />

em to<strong>do</strong>s os tempos e culturas humanas, que utilizaram a magia para garantir<br />

a repetição homogênea de certos fenômenos naturais, como a chuva, a chegada<br />

da estação certa para plantio e colheita, a proteção contra secas e enchentes, etc.<br />

Mas, se o exposto acima mostra a existência de um ponto em comum conti<strong>do</strong><br />

na técnica de antes e depois da revolução científica <strong>do</strong>s séculos XVII e XVIII,1<br />

há também que se ressaltar que a forma como a ciência impregna a técnica a<br />

partir da modernidade, tornan<strong>do</strong>-se o meio de produção por excelência dentro<br />

da dinâmica capitalista, cria uma distância enorme entre a técnica científica e a<br />

“técnica antropocêntrica” anterior. Na cauda desse “progresso,” a técnica moderna<br />

traz em seu bojo, como marco diferencial, a consciência, por parte <strong>do</strong> homem,<br />

da finitude <strong>do</strong>s recursos naturais e o desencantamento com as potencialidades<br />

da Razão iluminista,1 o que se manifesta, hoje, no processo constitutivo de uma<br />

mentalidade ecológica, que procura pensar um vínculo mais dura<strong>do</strong>uro entre<br />

natureza e sociedade. Contu<strong>do</strong>, há que se estar atento, frente a este cenário, de<br />

pre<strong>do</strong>mínio da razão instrumental, potencializa<strong>do</strong>ra das desigualdades sociais,<br />

para o fato de que a caracterização da técnica e da razão como um reducionismo<br />

antropocêntrico incorpora uma visão fatalista da técnica, abortan<strong>do</strong> a possibilidade<br />

de alternativas ou adaptações da mesma às exigências críticas.<br />

A pergunta que Brüseke (1997) lança então é a seguinte: Será que entre os<br />

defensores <strong>do</strong> progresso e os profetiza<strong>do</strong>res da destruição iminente não se poderia<br />

abrir um campo de reflexão e comunicação social com a chance de conformar um<br />

agir diferente? A resposta para tal indagação parece promissora, pois, segun<strong>do</strong><br />

h. Marcuse, razão e revolução. rio de Janeiro: Saga, 969. Mesmo assinalan<strong>do</strong> a politização<br />

da técnica e a inclusão da <strong>do</strong>minação na sua estrutura, Marcuse aponta para um certo “essencialismo”<br />

da técnica. Segun<strong>do</strong> ele, o a priori tecnológico é um a priori político, na medida<br />

em que as criações derivadas <strong>do</strong> homem brotam de uma totalidade social e a elas retornam.<br />

entretanto, pode-se insistir que a maquinaria <strong>do</strong> universo tecnológico é indiferente perante<br />

os fins políticos – pode servir de acelera<strong>do</strong>r ou de freio a uma sociedade. uma calcula<strong>do</strong>ra<br />

pode servir tanto a um regime capitalista como socialista.<br />

t. a<strong>do</strong>rno e M. horkheimer. Dialectica del Iluminismo. Buenos aires: Sur, 9 0. os frankfurtianos<br />

horkheim e a<strong>do</strong>rno evidenciam tal fato com sua “teoria crítica,” que denuncia as<br />

mazelas da indústria e da técnica moderna.<br />

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