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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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80<br />

n e a D e S p e C i a l<br />

Após este episódio sua mãe foi conversar em particular com o pastor e lembrou<br />

“que se Jesus e seus discípulos curavam porque então um homem comum<br />

não poderia também curar. Se não há santos na igreja Luterana, por que um<br />

homem comum como os próprios discípulos, não poderia também curar?” Ela<br />

ainda ressaltou que havia i<strong>do</strong> à benzedeira porque depois de ir a vários médicos,<br />

“ela via na prática da cura a salvação de seu filho, pois a cura era <strong>do</strong>tada da palavra<br />

de Deus.” O pastor lhe pediu desculpas e nunca mais fez comentários dirigi<strong>do</strong>s a<br />

este caso durante a prédica. O motivo de sua ida à benzedeira fora da cidade era<br />

um caso de bruxaria. Faremos um breve relato <strong>do</strong> caso.<br />

Uma das informantes comentou que sua avó e sua tia eram benzedeiras.<br />

A segunda havia aprendi<strong>do</strong> a benzer com o ensinamento de sua avó. Mesmo<br />

sen<strong>do</strong> membro da família, ela não sabia quais eram as palavras usadas para benzer,<br />

só compreendia a referência à Trindade na língua alemã e o sinal da cruz<br />

no final <strong>do</strong> rito.<br />

To<strong>do</strong>s na Vila freqüentam a benzedeira, mas não admitem por causa <strong>do</strong> temor<br />

ao pastor. Há uns anos atrás seu irmão mais novo (10 anos mais novo) teve<br />

um problema de saúde muito grave e vivia in<strong>do</strong> a diferentes médicos, mas nada<br />

adiantava,pois a <strong>do</strong>ença progredia.<br />

A sucessão de infortúnios, como perda da colheita, saúde ruim <strong>do</strong>s membros<br />

da família, ruptura de relações com vizinhos, constituiu um signo de embruxamento,<br />

caso em que a pessoa fica gravemente <strong>do</strong>ente logo após a série de fatos<br />

negativos, percorren<strong>do</strong> vários médicos e muitas vezes morren<strong>do</strong> rapidamente.<br />

Sua mãe foi no Dia das Mães em uma festa e encontrou uma vizinha que lhe<br />

perguntou sobre o esta<strong>do</strong> de saúde de seu filho. Diante da resposta, a referida<br />

vizinha atuou como a anuncia<strong>do</strong>ra da existência <strong>do</strong> bruxo, papel recorrente nos<br />

casos de bruxaria (Favret-Saada, 1977), reconstituin<strong>do</strong> e interpretan<strong>do</strong> os<br />

infortúnios numa ordem significativa de eventos e admitin<strong>do</strong> publicamente<br />

que alguém desejava que o rapaz morresse. Como este havia piora<strong>do</strong>, a vizinha<br />

sugeriu que sua mãe o levasse a uma sward, no caso brasileira, que vivia na cidade<br />

mais próxima. A preferência pelo benze<strong>do</strong>r de fora da comunidade e “estrangeiro”<br />

será tratada mais adiante.<br />

Antes de o bruxo aparecer, a acusação já é formulada pelo vizinho ou parente<br />

que torna evidente a necessidade de se levar o “embruxa<strong>do</strong>” à benzedeira.<br />

A benzedeira receitou chá, remédio e benzeção, tratamento que durou um<br />

ano. Seu irmão tomou chá e banhos de ervas para “limpar o sangue.” Quan<strong>do</strong> o<br />

pastor descobriu o caso ameaçou tirar a família da igreja.<br />

Na época, a benzedeira afirmou que “tinha gente da própria família que desejava<br />

o mal” para seu irmão. Este “pegou o mal” por ser o mais frágil e “ter pouca fé.”<br />

A benzedeira afirmou que sua irmã dificilmente “pegaria” porque ela tem “tanta<br />

fé e reza tanto” que é “mais forte.”

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