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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

servada em diferentes âmbitos, os papéis de gênero são questiona<strong>do</strong>s em diversos<br />

momentos, o que indica avanço rumo à relações igualitárias. Aqui cabe retomar<br />

a afirmação anterior, de que o Movimento admite um constante processo de<br />

questionamentos, que pode ser exemplifica<strong>do</strong> por da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s em campo:<br />

uma tarde, assistin<strong>do</strong> a um jogo de futebol misto, um homem adulto, liderança<br />

<strong>do</strong> MST, comentou sobre um passe de uma joga<strong>do</strong>ra “não sabe jogar, volta para a<br />

cozinha,” ao que sua esposa respondeu, apoiada por diversas outras falas “Antônio,<br />

lembra que nós somos marxistas e não machistas.”<br />

Observamos que, por um la<strong>do</strong>, os depoimentos demonstram que os jovens<br />

homens têm mais acesso a atividades de lazer, maior autonomia para saírem sem<br />

os pais e maiores possibilidades de participação política; que há uma diferenciação<br />

de gênero na distribuição e valorização <strong>do</strong> trabalho (o que pode indicar<br />

complementaridade ou assimetria), e distinção também em relação à sexualidade.<br />

Por outro, os depoimentos e as observações de campo demonstraram que esses<br />

mesmos papéis são questiona<strong>do</strong>s, em certa medida, tanto por jovens mulheres,<br />

quanto por jovens homens. “O fato de emergir a consciência de que os modelos<br />

de gênero – nos quais os homens aparecem como naturalmente superiores às<br />

mulheres – devem ser rompi<strong>do</strong>s, sugere a possibilidade de mudanças no futuro”<br />

(Rua; Abramovay, 2000: 285).<br />

O cotidiano juvenil é marca<strong>do</strong> principalmente pela família, trabalho e escola,<br />

contextos onde também se realizam as atividades de militância política. A família,<br />

além de importante marca<strong>do</strong>r da origem da participação no Movimento, estendese<br />

às relações vicinais, porém as moradias reúnem, em geral, apenas pais e irmãos<br />

biológicos. Rua e Abramovay (2000) também verificaram reduzi<strong>do</strong> número de<br />

famílias extensas nos assentamentos que pesquisaram, pre<strong>do</strong>minan<strong>do</strong> famílias<br />

nucleares e não numerosas.<br />

As redes familiar e vicinal configuram-se como importantes contextos de<br />

lazer, ao que se inclui o contexto da escola. São cita<strong>do</strong>s como lazer os jogos, bailes<br />

e passeios, sen<strong>do</strong> possível observar que aos jovens homens são oferecidas possibilidades<br />

em maior quantidade e em espaços mais amplos, ou seja, deslocan<strong>do</strong>-se<br />

mais facilmente para espaços extracomunitários.16<br />

O trabalho tem uma dimensão importante para a organização da vida <strong>do</strong>s<br />

assenta<strong>do</strong>s e é realiza<strong>do</strong>, habitualmente, no lote, pelos membros da família, con-<br />

6 exemplo dessa relação entre lazer e autonomia são os bailes realiza<strong>do</strong>s nos próprios assentamentos<br />

e em clubes de outras regiões da cidade. Às jovens mulheres é permitida a participação<br />

nos bailes <strong>do</strong>s assentamentos, freqüenta<strong>do</strong>s por toda a comunidade, mas quan<strong>do</strong><br />

ocorrem em outros locais são impostas várias restrições, o que não encontra equivalência<br />

quan<strong>do</strong> se trata <strong>do</strong>s jovens homens. também em torneios de futebol realiza<strong>do</strong>s fora da comunidade<br />

é comum jovens homens irem sozinhos, mas nunca jovens mulheres – como disse<br />

um depoente, “elas sempre têm que ter com quem ir.”<br />

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