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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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2<br />

n e a D e S p e C i a l<br />

O para<strong>do</strong>xo ficar ou sair: os limites e<br />

e scolhas nos processos de reprodução<br />

social da produção familiar<br />

O para<strong>do</strong>xo “ficar e sair” é marca<strong>do</strong> não só pela cobrança da atuação no lote e<br />

pela continuidade <strong>do</strong> trabalho familiar, como também pela forte valorização da<br />

formação escolar e mesmo <strong>do</strong> trabalho remunera<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> lote, principalmente<br />

com salário fixo, o que, via de regra implica uma ocupação urbana. Mas, há uma<br />

grande diferença entre a realidade concreta enfrentada por esses “jovens” e os seus<br />

sonhos e expectativas a partir <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> formal, quanto ao futuro profissional.<br />

escola, trabalho externo e o futuro:<br />

desejos e a realidade<br />

Apesar das dificuldades de acesso, a freqüência à escola é prioridade para as famílias<br />

assentadas e nas demais áreas pesquisadas.2 Nos discursos <strong>do</strong>s adultos, o<br />

estu<strong>do</strong> é associa<strong>do</strong> a percepções que representam mobilidade social, onde a sua<br />

própria condição de trabalha<strong>do</strong>r <strong>do</strong> meio rural aparece em posição de inferioridade.<br />

Isto é, aciona-se imagens e construções <strong>do</strong> “homem <strong>do</strong> campo” associa<strong>do</strong><br />

a “atraso,” falta de opção, falta de escolha, opção para quem não é inteligente.<br />

A partir da definição de classe object em Bourdieu (1977), pode-se afirmar que essa<br />

seria a reprodução de uma construção <strong>do</strong>minante no universo urbano.<br />

O trabalho externo também é muito valoriza<strong>do</strong> pelas famílias. No caso <strong>do</strong><br />

assentamento os filhos homens que atuam nos lotes trabalham fora, regularmente<br />

ou de forma eventual “biscate,” “diária,” dentro <strong>do</strong> assentamento ou em trabalhos<br />

urbanos. Freqüentar a escola não representa, necessariamente, um impedimento<br />

para a participação no trabalho familiar, já o trabalho externo, muitas vezes, marca<br />

uma ruptura temporária ou definitiva. A principal ocupação desses “jovens”/homens<br />

é trabalhar na construção civil, seja em pequenas obras, informalmente, ou<br />

para firmas com carteira assinada. As filhas seguem outra dinâmica, buscam emprego,<br />

principalmente no comércio e em alguns casos, como <strong>do</strong>méstica/babá, mas<br />

têm mais dificuldade de se colocar no merca<strong>do</strong>. Esse fator se associa a um maior<br />

controle da família sobre as mulheres, principalmente “jovens,” que são “proibidas”<br />

25 na localidade só existem escolas de a a a série <strong>do</strong> ensino fundamental, a partir da 5 a série <strong>do</strong><br />

ensino fundamental os filhos de assenta<strong>do</strong>s precisam se deslocar seis quilômetros em média,<br />

para núcleos urbanos próximos. esse trajeto é realiza<strong>do</strong> a pé ou de bicicleta já que não existe<br />

transporte público que atenda o assentamento. as famílias lançam mão de diversas estratégias<br />

para garantir a continuidade <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s filhos, tais como: levar e buscar os filhos mais<br />

novos; garantir que andem em grupo; etc. a falta de transporte praticamente inviabiliza a<br />

freqüência à escola no horário noturno.

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