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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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n e a D e S p e C i a l<br />

para a maioria <strong>do</strong>s discursos acadêmicos sobre o agrário, motivo para a “expulsão<br />

estrutural” <strong>do</strong> grupo social.<br />

Em Os herdeiros da terra, <strong>Margarida</strong> Maria Moura (1978), ao analisar a relevância<br />

da herança no campesinato mineiro, percebe que o patrimônio territorial<br />

seria mais <strong>do</strong> que colocá-lo em mãos <strong>do</strong>s descendentes diretos de um indivíduo,<br />

mas como assegura<strong>do</strong>r da reprodução da área como camponesa, em que a herança<br />

enfeixaria um papel estratégico neste senti<strong>do</strong>.<br />

Falar de trabalho em São João da Cristina, vilarejo investiga<strong>do</strong> por ela, é falar<br />

da distribuição das tarefas por sexo e idade entre parentes que habitam um mesmo<br />

sítio. Para a autora, a família compõe um grupo indissociável, no seu conjunto,<br />

da condição de trabalha<strong>do</strong>res econômicos.<br />

Assim, a economia de cada sítio está calcada na oposição complementar unidade<br />

de produção e unidade de consumo “…perfeitamente interligada na economia<br />

camponesa, fornecen<strong>do</strong>, por esta mesma razão, o seu traço distintivo fundamental…”<br />

(Moura, 1978, p. 19). Podemos perceber aqui a força inconteste <strong>do</strong> ranço<br />

chayanoviano nesta assertiva.<br />

Ao pensar o trabalho feminino e masculino naquele povoa<strong>do</strong>, a autora demonstra<br />

que se trata de uma separação radical, isto é, ambos são denomina<strong>do</strong>s<br />

trabalhos, mas há um “trabalho de casa” e um “trabalho da roça.” “As lides <strong>do</strong>mésticas<br />

são sempre “…trabalho,” poden<strong>do</strong> ser especificadas como “uma ajuda” em<br />

relação ao trabalho na roça…”(Moura, 1978, p. 19).<br />

Se o “trabalho da casa” é menos “pesa<strong>do</strong>” para os sitiantes em que há, segun<strong>do</strong><br />

Moura, uma preocupação em igualar as duas formas [complementares] de trabalho,<br />

ou seja, o “trabalho de casa” poderá vir a ser especifica<strong>do</strong> como “ajuda,” apontan<strong>do</strong>se<br />

nesses casos para o caráter complementar, <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>, que este possui em relação<br />

ao “trabalho na roça,” o inverso, como en<strong>do</strong>ssa a autora, não seria possível.<br />

Portanto, o trabalho da casa caberia à mulher, mãe e filhas, a partir da faixa<br />

de idade de sete a nove anos. Este “trabalho no lar” é também para o lar, ou seja,<br />

aquelas tarefas que visam assegurar bens alimentícios, objetos ou serviços que<br />

servem para a sobrevivência <strong>do</strong>s membros da casa.<br />

Assim, a mulher camponesa atuaria na casa (unidade de consumo) onde<br />

desempenharia um papel complementar ao homem, que atuaria no âmbito da<br />

unidade de produção. Nesse contexto, tu<strong>do</strong> o que se ligaria à preparação para o<br />

consumo <strong>do</strong> que a terra produziu é atribuição da mulher.<br />

No caso da distinção sexual da autonomia ou “emancipação” social de rapazes<br />

e moças na dinâmica <strong>do</strong> sítio está estruturalmente dividida no acesso a terra (no<br />

caso <strong>do</strong>s rapazes) e na autonomia de decisão que, na condição de <strong>do</strong>na de uma<br />

“casa de morada” [seu lar] passa a ter (no caso das moças).<br />

Alicerça<strong>do</strong> em uma en<strong>do</strong>gamia de lugar, o povoa<strong>do</strong> de São João percebe a<br />

unidade familiar pautada na família nuclear com sua prole. Ao tratar da eman-

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