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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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n e a D e S p e C i a l<br />

Para Tepicht, o grupo <strong>do</strong>méstico não conteria apenas unidade de consumo<br />

e unidade de produção, mas forças plenas (homens em idade produtiva) e forças<br />

marginais (mulheres, i<strong>do</strong>sos e crianças). Diferentemente de Chayanov que pensaria<br />

estas últimas como membros <strong>do</strong> grupo <strong>do</strong>méstico que consomem mais <strong>do</strong><br />

que produzem, Tepicht percebe que são nelas que repousaria a especificidade<br />

camponesa.<br />

Dans la plupart des fermes paysannes d’Europe, l’essentiel des travaux des champs est assuré<br />

par le chef de famille et par les membres de la famille en pleine force. Par contre, le service des<br />

étables, des porcheries et de la basse-cour est assuré surtout par le travail à mi-temps des femmes,<br />

enfants, vieillards, plus les marges de temps disponibles du chef de famille, en somme, par les<br />

“forces marginales” de la ferme. On purrait les appeler aussi non transférables puisque la même<br />

famille, dès qu’elle quitte son exploitation agricole, n’a plus recours à ces forces pour assurer sa<br />

subsistance. (Tepicht, 1973, p. 38).<br />

Portanto, no limite, as forces marginales permaneceriam operativas no interior<br />

da propriedade. Os supostos consumi<strong>do</strong>res podem estar colaboran<strong>do</strong> para<br />

reduzir a penosidade <strong>do</strong> trabalho, ao invés de aumentá-la. Em contrapartida<br />

ao esquema chayanoviano, para Tepicht, os marginales passam a ser centrais à<br />

reprodução camponesa.<br />

Essa distinção entre forças plenas e forças marginais explicaria a viabilidade<br />

econômica de certas atividades desenvolvidas no interior <strong>do</strong> empreendimento<br />

camponês por ficarem a cargo das tais forças marginais e, portanto, a um custo<br />

de oportunidade muito baixo. Para Woortmann (1995) esta oposição entre ambas<br />

as ‘forças de trabalho’, que negaria a indivisibilidade <strong>do</strong> trabalho, corresponderia<br />

à composição <strong>do</strong> grupo <strong>do</strong>méstico por sexo e idade. Para a antropóloga, em sua<br />

interpretação sobre a teoria tepichtiana, as forças plenas são representadas pelos<br />

homens adultos em ‘idade produtiva’, com possibilidade alternativas no merca<strong>do</strong><br />

de trabalho e empregadas nas atividades principais <strong>do</strong> empreendimento. Assim,<br />

as forças marginais são representadas pelo trabalho a meio tempo de crianças, de<br />

i<strong>do</strong>sos e de mulheres, isto é, aquelas que podem ser consideradas ‘não transferíveis’,<br />

e que geram uma renda marginal.<br />

Portanto, Tepicht propõe que a família se encontre no seio da economia camponesa.<br />

Uma simbiose entre o empreendimento agrícola e a economia <strong>do</strong>méstica,<br />

expressa no coletivismo rigoroso da família. No que tange ao papel da mulher<br />

camponesa, o trabalho seria por tempo parcial, de comum acor<strong>do</strong> com a divisão<br />

sexual <strong>do</strong> trabalho, em que competem a elas as tarefas <strong>do</strong>mésticas.<br />

É como se, e parafrasean<strong>do</strong> Woortmann, houvesse um trabalho parcial “produtivo”<br />

(desde o ponto de vista economista) e outro “não-produtivo” (as atividades<br />

realizadas em casa), que ao meu ver corrobora a uma visão utilitarista sobre o

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