18.04.2013 Views

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

130<br />

n e a D e S p e C i a l<br />

para plantar, ter o coco para quebrar, aquela vidinha pronto, a gente achava que era só<br />

aquilo. Quan<strong>do</strong> vem o conflito que a gente percebe que tem um monte de gente viven<strong>do</strong><br />

a mesma situação da gente e que a gente começa a perceber que a gente não está sozinho<br />

no mun<strong>do</strong> viven<strong>do</strong> aquelas conseqüências, viven<strong>do</strong> aquelas agressões. É quan<strong>do</strong> a gente<br />

começa assim a se juntar com outras pessoas. E aí a gente começa a abrir a mente, ten<strong>do</strong><br />

noção que a gente precisa se organizar pra poder tar vencen<strong>do</strong>. (Toinha, 2002)<br />

A luta pela terra na comunidade <strong>do</strong> Lu<strong>do</strong>vico não foi um incidente isola<strong>do</strong> e<br />

particular na região e no Brasil. Durante o processo de redemocratização brasileiro<br />

inicia<strong>do</strong> em finais <strong>do</strong>s anos 1970 e início de 1980, o Brasil assistiu à reorganização<br />

de movimentos sociais e de organizações que, na zona rural defendiam<br />

a reforma agrária.<br />

O epicentro <strong>do</strong> movimento de luta pela terra no Maranhão, na segunda metade<br />

<strong>do</strong>s anos 1980, localizava-se nas regiões <strong>do</strong> Médio Mearim,1 Alto Mearim<br />

e <strong>do</strong> Grajaú. Nestas regiões a reforma agrária ocorreu no “rastilho da pólvora”,1<br />

ou seja, não existia uma política governamental para a realização da reforma<br />

agrária. Foi pela pressão <strong>do</strong>s movimentos sociais que os grandes latifúndios<br />

foram desapropria<strong>do</strong>s. A gente não mora em áreas de reforma agrária, a gente<br />

mora em áreas de resistência, porque reforma agrária tinha que ser ampla, sem<br />

mortes, sem violência, sem tanta tortura, tanto massacre, tanto sofrimento.<br />

(Toinha, 2002)<br />

Essa “miséria da reforma”16 afetou as quebradeiras e suas famílias de pelo<br />

menos duas formas. Por um la<strong>do</strong>, a falta de planejamento levou à distribuição de<br />

uma quantidade de terras inferior à procura, uma vez que nem todas as áreas de<br />

resistência se tornaram assentamentos de reforma agrária. Além disso, as áreas<br />

de resistência não eram contíguas, o que significa que hoje temos ilhas de assentamentos<br />

em meio a um mar de latifúndio. Por outro la<strong>do</strong>, as áreas não consideram<br />

as gerações futuras, o que acaba por transformar os filhos e as filhas das famílias<br />

agroextrativistas em sem-terra quan<strong>do</strong> casam ou deixam a casa <strong>do</strong>s pais.<br />

Durante o processo de luta pela terra organizações da sociedade civil, tais<br />

como a Animação Comunitária de Educação em Saúde e Agricultura (Acesa),1 (Acesa),<br />

região onde se localiza a área de atuação da assema.<br />

5 Carneiro, M. S.; andrade, M. p.; Mesquita, B. a. a reforma da miséria e a miséria da reforma:<br />

notas sobre assentamentos e ações chamadas de reforma agrária no Maranhão. revista<br />

políticas públicas, v. 2, n. 2, julho a dezembro de 996, pp. - 00.<br />

6 idem.<br />

acesa, iniciativa eclesiástica de capacitação e apoio às comunidades rurais. localizada em<br />

Bacabal, Maranhão, foi criada em 986 para dar continuidade ao trabalho inicia<strong>do</strong> durante os<br />

conflitos pela posse da terra no Mearim.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!