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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

com a ordem moral, com o valor “autoridade <strong>do</strong> pai,” base de toda a land. Seu<br />

ato ilustra o acesso às esferas situadas fora <strong>do</strong> universo aldeão, ultrapassan<strong>do</strong> o<br />

limite <strong>do</strong>s media<strong>do</strong>res locais.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, a idéia de “caça à bruxa” é a crença da comunidade pomerana numa<br />

identidade que gira em torno de uma ordem moral ideal. A bruxaria seria um julgamento<br />

ético que representa um modelo que lida com o que deveria acontecer na<br />

ordem social e os caminhos que as pessoas, realmente, escolheram: paraíso ou inferno?<br />

Bailey (1971 e 1994) retoma a noção de comunidade, enfatizan<strong>do</strong> que a bruxaria<br />

é parte da contradição entre <strong>do</strong>is modelos, ou seja, duas interpretações acerca <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong>: o modelo científico (modelo médico) e o modelo da possessão (cura). O primeiro<br />

afirma o discurso da ciência e o segun<strong>do</strong>, o discurso da moralidade. A violência<br />

da bruxaria emergiria nos momentos de conflito aberto entre estas duas ordens.<br />

As fronteiras entre a autonomia individual e o <strong>do</strong>mínio coletivo como objeto de<br />

contestação atualiza as oposições entre a Pequena e a Grande Tradição, definiçõeschaves<br />

na concepção de ethos camponesa de Robert Redfield (1965 e 1969).<br />

As ambigüidades e conflitos da ordem social são aspectos retoma<strong>do</strong>s por<br />

Douglas (1970) ao abordar o impacto da obra de Evans Pritchard (1978) sobre o<br />

futuro <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s de bruxaria.<br />

O estu<strong>do</strong> de Pritchard teria como principal objetivo mostrar como um sistema<br />

metafísico podia impor uma crença mediante procedimentos diferentes de<br />

auto-avaliação. A crença <strong>do</strong>s Azande na bruxaria mantinha seus valores morais<br />

e suas instituições.<br />

Segun<strong>do</strong> Douglas (1970, p. 36), três princípios da análise de Pritchard foram<br />

aplica<strong>do</strong>s nas posteriores investigações sobre bruxaria:<br />

maior tolerância quanto ao tema. A percepção de que a bruxaria é um princípio<br />

de causalidade que se refere não aos “seres espirituais misteriosos, mas aos poderes<br />

misteriosos <strong>do</strong>s seres humanos”;<br />

as acusações se agrupavam nas zonas das relações sociais ambíguas;<br />

as crenças em bruxaria teriam um efeito normativo sobre o comportamento,<br />

reforçan<strong>do</strong> um sistema moral e seus códigos sociais.<br />

A autora destaca, no entanto, o fato de que o impacto da obra de Evans<br />

Pritchard foi responsável por rever a relação entre as disciplinas história e antropologia.<br />

A partir de seu estu<strong>do</strong>, temos duas idéias-chave na crítica <strong>do</strong> autor<br />

à ciência histórica. A primeira se refere à impossibilidade de se tratar a bruxaria<br />

numa escala temporal, conforme se apresenta nos trabalhos historiográficos.<br />

A segunda proposição aborda a interpretação da bruxaria a partir <strong>do</strong> chama<strong>do</strong><br />

modelo homeostático.<br />

Este modelo, desenvolvi<strong>do</strong> a partir da obra de Pritchard (1978), teria duas<br />

linhas de interpretação. Uma delas se refere à idéia de que a bruxaria contribui<br />

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