18.04.2013 Views

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

Em Monte Alegre, palmeiras foram cortadas por homens <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>, que<br />

alegavam falta de espaço para o plantio, geran<strong>do</strong> tensões entre eles e quebradeiras<br />

de coco da localidade, como afirmou Raimunda Sousa:<br />

Aqui tem muito deles [homens <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>] que derruba na época da roça […] sabe o<br />

que é isso é porque a pessoa num pensa porque o coco dá muita produção […] se a gente<br />

entendesse […] não devorava […] Agora eles derruba e a gente vai lá, mas ela já tá no<br />

chão e a gente num pode botar em cima de novo […] mas a gente grita que só falta se<br />

desmantelar. Num é muito, mas derruba sempre […] a palmeira é a vida <strong>do</strong> cristão, se<br />

jogar ela no chão não tem mais produção, nem tem mais vida.<br />

Em algumas regiões, o corte de palmeirais por companheiros de quebradeiras<br />

era uma prática presente em meio aos conflitos com fazendeiros/grileiros daquele<br />

referi<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de resistências. Em Lago <strong>do</strong> Junco, enquanto as mulheres<br />

impediam que contrata<strong>do</strong>s das fazendas cortassem as palmeiras de babaçu, os<br />

próprios homens <strong>do</strong>s povoa<strong>do</strong>s derrubavam-nas. Para impedir essas práticas as<br />

quebradeiras tentavam mostrar aos seus mari<strong>do</strong>s/companheiros que o que eles<br />

ganhavam com o corte era inferior à renda obtida pela mulher na quebra <strong>do</strong> coco.<br />

(Assema em Revista, 2004)<br />

A derrubada <strong>do</strong>s babaçuais significa, para as mulheres, além da perda material,<br />

uma perda simbólica, já que a palmeira, de acor<strong>do</strong> com o povoa<strong>do</strong>, assume<br />

um lugar personifica<strong>do</strong> (“mãe,” “virgem,” “viúva”). Figueire<strong>do</strong> (2005) destaca que,<br />

em alguns casos, quan<strong>do</strong> quebradeiras tentam empatar o corte de palmeirais<br />

e não obtêm êxito, são realizadas místicas que simbolizam as derrubadas de<br />

palmeiras como sen<strong>do</strong> a morte de mães e são feitas orações para seu enterro.<br />

Em Monte Alegre, derrubadas de palmeiras por homens da localidade podem<br />

significar uma desvalorização <strong>do</strong> trabalho feminino, posto em segun<strong>do</strong> lugar,<br />

portanto, subsidiário ao trabalho masculino. Muitos homens não admitem quebrar<br />

o coco e aqueles que quebram, na maioria das vezes, o fazem como uma<br />

atividade secundária.<br />

Muito embora a implantação de roças seja uma prática antiga nessa localidade,<br />

sen<strong>do</strong> ainda usadas técnicas tradicionais de cultivo, como o corte das árvores e<br />

arbustos e a queima das áreas de plantação, consideramos que com as novas discussões<br />

levadas pelo MIQCB e sobretu<strong>do</strong> pela Assema sobre a modificação de<br />

recursos no trabalho agrícola, visan<strong>do</strong> conter a derrubada de palmeiras e manter<br />

a fertilidade <strong>do</strong> solo, os homens já possuem conhecimento da necessidade de<br />

praticar a agricultura sem devastar os babaçuais. Nessa perspectiva, sugerimos<br />

que quan<strong>do</strong> homens cortam palmeiras pode existir uma relação próxima entre<br />

devastação <strong>do</strong>s babaçuais e auto-afirmação masculina, uma hipótese que incentiva<br />

uma posterior discussão acerca das relações de gênero tecidas nesse povoa<strong>do</strong>.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!