Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />
Em geral, essas mulheres não dividem afazeres <strong>do</strong>mésticos com seus mari<strong>do</strong>s/companheiros,<br />
ou porque não reivindicam isso, ou ainda porque estes não<br />
se sentem confortáveis em negociar uma divisão de tarefas no âmbito familiar.<br />
Maria R. <strong>do</strong>s Santos diz, que em Monte Alegre, “[…] os homem são muito machista,<br />
eles querem a mulher mesmo só pra cozinha, cuidar <strong>do</strong>s filho, na hora da<br />
sociedade eles pulam fora.” Sen<strong>do</strong> assim, o machismo estaria contribuin<strong>do</strong> na não<br />
divisão <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> <strong>do</strong>s filhos, fican<strong>do</strong> essa tarefa quase exclusivamente a cargo<br />
da mulher. No caso em que as mulheres não realizam nenhum tipo de trabalho<br />
extracasa (em geral, porque tem filhos pequenos), o comportamento <strong>do</strong>s homens<br />
é como Francidalva de Jesus descreve: “Ele sempre dá uma de durão, tem homem<br />
que bota tu<strong>do</strong> dentro de casa.”<br />
Verificamos que tanto mulheres vinculadas ao MIQCB quanto aquelas que<br />
compartilham experiências com as primeiras, gostariam de vivenciar relações<br />
mais igualitárias no que diz respeito a esse aspecto, como Maria Bringelo, que<br />
concorda “[…] que o homem ajuda, mas isso não é em toda casa. Depois que o<br />
homem vai pra roça ele acha que não deve fazer muita coisa, a responsabilidade é<br />
da mulher.” Cleonice de Andrade também expressa que os homens “Sempre aqui,<br />
acolá, eles ajuda, mas não ajuda não, eles sempre vão é pra roça. Mas tem deles<br />
que quebra, tem muitos que quebra. É, outro junta pras mulher quebrar em casa,<br />
porque o pessoal tá quebran<strong>do</strong> mais em casa.”<br />
Fato é que poucos homens auxiliam suas companheiras fican<strong>do</strong> com seus filhos<br />
em casa ou mesmo os levan<strong>do</strong> para a roça. Antes, quan<strong>do</strong> as mulheres saíam<br />
para quebrar coco, geralmente, era o irmão mais velho que cuidava <strong>do</strong> menor e,<br />
segun<strong>do</strong> Maria Araújo, quan<strong>do</strong> isso não era possível, “levava pro mato e a redinha<br />
dentro <strong>do</strong> cofo e a latinha de leite, levava pro mato, fazia um foguinho e fazia o<br />
cumê dele.” A experiência de Josefa Silva é bem parecida, pois “[…] assim mesmo<br />
eu levava, levava massa […] açúcar […], mas não ficava com ninguém […] <strong>do</strong><br />
jeito que eu padecia, ela também, nos mato.”<br />
Consideran<strong>do</strong> essa análise sobre o cuida<strong>do</strong> <strong>do</strong>s filhos e da casa, entendemos<br />
que, em grande medida, a visão <strong>do</strong> trabalho de quebra <strong>do</strong> coco como uma extensão<br />
<strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong>méstico perpassa o cotidiano desses trabalha<strong>do</strong>res rurais. Tal<br />
visão pode confirmar, inclusive, o motivo de os homens admitirem a quebra <strong>do</strong><br />
coco como uma função essencialmente feminina e preferirem que esse trabalho<br />
seja realiza<strong>do</strong> em casa. Embora reconheçam a importância <strong>do</strong> trabalho feminino<br />
para a sobrevivência, já que, como aponta Francisca de Aquino, “É difícil um<br />
homem sustentar a mulher sem ela trabalhar […]. Inda mais quem tem muito<br />
filho […] porque eles não têm ganho […] eles trabalha é na roça,” os homens quase<br />
sempre vêem a referida atividade como uma mera ajuda familiar.<br />
Muito embora algumas dessas mulheres tentem desconstruir essa imagem,<br />
a assimetria de gênero contribui para que a maioria delas acabe assimilan<strong>do</strong><br />
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