Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />
o potencial de desenvolvimento de um país depende em primeira instância da sua capa-<br />
cidade de se pensar, em segunda da sua habilidade a por em obra o projeto e só em última<br />
instância, <strong>do</strong> grau de desenvolvimento <strong>do</strong> seu aparelho produtivo. Mia Couto tem razão<br />
ao dizer que ‘o maior empobrecimento provém da falta de idéias, da erosão da criatividade,<br />
e da ausência interna <strong>do</strong> debate. Mais <strong>do</strong> que pobres, tornamo-nos inférteis. É necessário<br />
estarmos atentos para o que chama a atenção A.D. Traoré “para <strong>do</strong>mesticar o desenvol-<br />
vimento, ou seja, parar de fazer com que seja um instrumento de transformação social,<br />
econômica e política, em nosso prejuízo, torna-se essencial de pensá-lo e de praticá-lo<br />
em função <strong>do</strong> que sabemos fazer com os recursos que estão à nossa disposição, numa<br />
perspectiva que nos é própria ou pelo menos na qual nos reconhecemos. Cada aspecto de<br />
nossa existência se presta a este trabalho de redefinição e de reorientação: a educação, a<br />
saúde, a alimentação, a moradia, o vestuário, o Esta<strong>do</strong>, a governança, a descentralização,<br />
a democracia e, sem dúvida, a luta contra a pobreza. (Saches, 2004).<br />
Sachs defende dentro da perspectiva <strong>do</strong> desenvolvimento endógeno o respeito<br />
à variedade das respostas dadas aos desafios da vida quotidiana por diferentes<br />
culturas viven<strong>do</strong> em ecossistemas similares, e a partir dessas experiências<br />
diferentes, estabelecer-se um intercâmbio cultural. Sachs defende, ainda, uma<br />
visão <strong>do</strong> desenvolvimento livre <strong>do</strong>s preconceitos, redutores <strong>do</strong> economicismo e<br />
da preocupação exclusiva com o consumismo, as formas de arte e entretenimento<br />
conviviais merecem uma alta prioridade no projeto nacional. “Ela não é uma flor<br />
na lapela, um luxo de gente rica e sim uma necessidade fundamental e uma fonte<br />
de alegria, vivenciada como tal em todas as sociedades humanas, inclusive as que<br />
estão submetidas às privações materiais mais extremas (id.: 14).”<br />
Em sintonia com a perspectiva endógena de desenvolvimento, é que Sen<br />
(2001) também contrapõe o desenvolvimento sociocultural de um povo a visões<br />
mais restritas de desenvolvimento, que o equalizam a crescimento <strong>do</strong> Produto<br />
Interno Bruto (PIB), aumento da renda per capita, industrialização, avanço tecnológico<br />
ou modernização social. Mas, se Boaventura e Sachs chamam a atenção<br />
para o aspecto cultural <strong>do</strong> desenvolvimento, Sen vai enfatizar a necessidade da<br />
liberdade para atingi-lo. Para este autor, a liberdade deve ser pensada de forma<br />
substantiva e, não apenas, formal, como dentro da ideologia liberal-burguesa.<br />
Assim, liberdade implicaria em participação política ou oportunidade de receber<br />
educação básica ou assistência médica, sen<strong>do</strong> estes componentes constitutivos<br />
<strong>do</strong> desenvolvimento.<br />
traoré, a. D. ( 999), L’éteau – l’Afrique dans un monde sans frontières, actes Sud, p. . Ver<br />
também o livro <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r africano Joseph Ki-zerbo (200 ), A quand l’Afrique? – Entretien<br />
avec René Holenstein, editions de l’aube, la tour d’aigues.<br />
2