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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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2<br />

n e a D e S p e C i a l<br />

A ordem de conflitos que emerge entre homens e mulheres na difícil manutenção<br />

da autoridade sobre a land e a interdependência de funções pode ser percebida<br />

na tradição oral, especialmente nas canções pomeranas que falam <strong>do</strong> casamento.<br />

Como vimos não apenas a autoridade <strong>do</strong> homem é discutida no rito <strong>do</strong><br />

casamento, as significações <strong>do</strong> ritual são mais ambíguas e complexas e não se<br />

restringem apenas a identificar quem é o novo <strong>do</strong>no da terra. Na celebração <strong>do</strong><br />

casamento, em diversos momentos <strong>do</strong> ritual, a própria ordem das coisas no mun<strong>do</strong><br />

camponês é posta em causa. O ritual <strong>do</strong> casamento expõe a cada nova land<br />

que se forma as questões essenciais para a sua manutenção: O mari<strong>do</strong> será capaz<br />

de gerir sua land? A mulher corresponderá às tarefas que lhe serão atribuídas?<br />

A complementariedade de cada um no trabalho fará com que a land prospere?<br />

O casamento, para os pomeranos, é um momento dramático, clímax da existência,<br />

que evidencia de forma ambígua a importância <strong>do</strong>s jogos na relação entre<br />

o mari<strong>do</strong>, a mulher e a land. Mesmo evidencian<strong>do</strong>, em vários momentos, a autoridade<br />

<strong>do</strong> homem no coman<strong>do</strong> da casa, o ritual de casamento mostra também que<br />

as relações no interior da land não pertencem ao <strong>do</strong>mínio exclusivo <strong>do</strong> homem,<br />

mas que estes <strong>do</strong>mínios são socializa<strong>do</strong>s e controla<strong>do</strong>s pela comunidade.<br />

As superstições e as questões que expõem sobre as dúvidas e ambigüidades <strong>do</strong><br />

mo<strong>do</strong> de vida <strong>do</strong>s pomeranos organizam detalhadamente os atos <strong>do</strong>s participantes<br />

da festa. As cores usadas, a disposição <strong>do</strong>s objetos, pessoas e coisas compõem<br />

toda a lógica <strong>do</strong> grupo sobre o ritual que mais lhes afeta a vida social.<br />

O que é mais interessante no rito <strong>do</strong> casamento são as pequenas superstições<br />

(ouwaglouba\Aberglauben) que evocam a disputa entre o homem e a mulher pela<br />

autoridade da casa e as mudanças que afetam sua manutenção, tais como o adultério<br />

e a morte. De acor<strong>do</strong> com Roelke (1996, p. 71-72),<br />

na entrada da igreja observava-se quem primeiro pisava no interior <strong>do</strong> templo. Este, ou<br />

esta, mandaria e teria sempre a última palavra em casa. As noivas costumavam esconder<br />

sementes de endro ou cominho no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> sapato, para dizerem em voz baixa, durante<br />

8 Klaina keirl (canção)Klaina keirl seet im botarfat, hejuchhe!Krüpst duu ruutar, den giwt dat wat!<br />

Groud fruuch wu tam dansan gooan, hejuchhe!Klaina keirl schu tuus blijwa!<br />

homem pequeno, está senta<strong>do</strong> na batedeira de manteiga, hurra! Se você sair daí, você vai<br />

ver (isso vai dar em algo)! Mulher grande queria ir ao baile, hurra! o homem pequeno teve<br />

que ficar em casa!<br />

Mijna keirl (canção) Mijna keirl het mij sou slooa.Ain groud loch im kop. Doorweechan dau ik em<br />

farkloocha;Hai mökt mit mij dat ta grow. Meu mari<strong>do</strong> espancou-me. até abrir uma grande<br />

brecha na cabeça.Devi<strong>do</strong> a isso irei denunciá-lo;ele é muito grosseiro comigo.<br />

9 Muitas dessas superstições se referem à condição de reprodução <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de vida camponês<br />

através <strong>do</strong> nascimento <strong>do</strong>s filhos. neste caso, a imagem da esterilidade feminina sobrevém<br />

como condição ameaça<strong>do</strong>ra à reprodução <strong>do</strong> ethos camponês e da própria identidade.

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