Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />
zer parte da identidade, a depender de como o sujeito os assume e os integra em<br />
suas práticas cotidianas, na percepção de si e <strong>do</strong>s grupos aos quais se vincula<br />
(Castells, 2001; Pra<strong>do</strong>, 2002).<br />
No assentamento pesquisa<strong>do</strong>, a trajetória coletiva permanece, mesmo com<br />
o passar <strong>do</strong>s anos, como principal referência para a identificação e apresentação<br />
<strong>do</strong>s assenta<strong>do</strong>s e assentadas. A identidade coletiva de assenta<strong>do</strong>s e assentadas<br />
<strong>do</strong> PA Aliança tem como fonte principal a trajetória de lutas construída, interpretada<br />
e compartilhada coletivamente. A luta das famílias de posseiros pela<br />
permanência, trabalho e direito à propriedade da terra compõe as trajetórias<br />
individuais e coletivas que tem sua sustentação na intensa relação com a terra, no<br />
sentimento de enraizamento, nas ações coletivas, no compartilhamento da experiência<br />
vivida e no fortalecimento <strong>do</strong>s vínculos <strong>do</strong> grupo. Constitui-se, portanto,<br />
em fonte permanente de significa<strong>do</strong>s que compõe a dinâmica identitária. Nesse<br />
processo são compartilhadas crenças, valores, interesses e esperanças que fortalecem<br />
vínculos e se materializam em projetos e ações coletivas ao longo de sua<br />
trajetória como agrega<strong>do</strong>s, posseiros, assenta<strong>do</strong>s, trabalha<strong>do</strong>res e trabalha<strong>do</strong>ras<br />
rurais (Castells, 2001; Mendes, 2002; Pra<strong>do</strong>, 2002).<br />
A história da violência <strong>do</strong> latifúndio e <strong>do</strong> conflito pela propriedade da terra<br />
é também a história de resistência e fortalecimento da identidade de posseiros.<br />
Estes, com sua organização e ação coletiva, desenvolveram a capacidade de fazer<br />
pressão em defesa <strong>do</strong> projeto coletivo, e obterem o reconhecimento <strong>do</strong>s direitos<br />
de posse da terra. Nesse fazer, construíram articulações, novas relações e redes<br />
de sociabilidade trazen<strong>do</strong> outros atores à cena, na qualidade de media<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />
conflito, como é o caso da Igreja e <strong>do</strong> Sindicato <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res Rurais.<br />
A grande novidade que será o motor de todas as mudanças na vida <strong>do</strong>s posseiros<br />
é sua organização e participação social. Os vínculos construí<strong>do</strong>s a partir<br />
da história de uma raiz comum são fortaleci<strong>do</strong>s e re-significa<strong>do</strong>s pela expansão<br />
e constituição de novas famílias, mas, sobretu<strong>do</strong>, pela ampliação das formas de<br />
sociabilidade.<br />
O tema principal associa<strong>do</strong> à trajetória de lutas é a mudança. As mudanças<br />
operadas por homens e mulheres, abundantes em significa<strong>do</strong>s, foram tratadas<br />
espontaneamente pelos assenta<strong>do</strong>s e assentadas como forma de se apresentarem<br />
ou falarem de suas vidas. De mo<strong>do</strong> entusiasta, ressaltaram como principais mudanças<br />
a condição de liberdade para trabalharem na própria terra; o acesso a bens<br />
e serviços; novos costumes, formas de se apresentarem e se relacionarem interna e<br />
externamente ao assentamento; a organização e participação em atividades coletivas<br />
no assentamento, na associação e no sindicato; o acesso aos direitos sociais e<br />
cidadania. Para os assenta<strong>do</strong>s e assentadas <strong>do</strong> PA Aliança, a importância primeira<br />
<strong>do</strong> assentamento reside na terra em suas próprias mãos, condição essencial para<br />
a sua liberdade de trabalhar e viver. Os tempos <strong>do</strong> trabalho agrega<strong>do</strong>, mesmo<br />
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