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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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n e a D e S p e C i a l<br />

Uma das diferenças fundamentais entre as mulheres <strong>do</strong> Movimento e as que<br />

(ainda) não se articularam é que aquelas não só se identificam e são identificadas<br />

como quebradeiras de coco, mas afirmam esta condição orgulhan<strong>do</strong>-se de sua<br />

atividade, enquanto estas apesar de se reconhecerem e serem reconhecidas da<br />

mesma forma, não necessariamente consideram tal reconhecimento como algo<br />

positivo. Evidentemente que as conquistas obtidas pelo MIQCB têm contribuí<strong>do</strong><br />

para que as demais quebradeiras se orgulhem cada vez mais de seu trabalho,<br />

assumin<strong>do</strong>, assim, o valor da atividade extrativa a partir de um outro ângulo.<br />

No povoa<strong>do</strong> de Monte Alegre: o masculino<br />

e o feminino entre discursos e práticas<br />

Em Monte Alegre, há pelo menos três discursos em torno da importância <strong>do</strong><br />

trabalho agrícola (roça) e <strong>do</strong> trabalho extrativista (quebra <strong>do</strong> coco), relaciona<strong>do</strong>s<br />

respectivamente a atividades masculinas e femininas. De acor<strong>do</strong> com o primeiro,<br />

em conformidade com o imaginário que envolve relações de gênero vivenciadas<br />

no povoa<strong>do</strong>, são os homens que asseguram o sustento de suas famílias, diante<br />

<strong>do</strong> que a renda das mulheres é vista como complementar a <strong>do</strong>s mari<strong>do</strong>s/companheiros.<br />

Um segun<strong>do</strong> discurso afirma que longe de serem sustentadas, são as<br />

quebradeiras que asseguram o sustento de suas unidades <strong>do</strong>mésticas. E, um terceiro,<br />

aponta que ambas as rendas, mutuamente complementares, garantem o<br />

sustento das famílias.<br />

O primeiro é o discurso mais forte e propaga<strong>do</strong>, os <strong>do</strong>is últimos são menos percebi<strong>do</strong>s.<br />

Esperar que quaisquer dessas lógicas sejam aplicadas sem contradições e<br />

ambigüidades é esquecer que quase nunca as práticas coincidem com os discursos.<br />

O melhor caminho parece ser entender como esses discursos são construí<strong>do</strong>s e<br />

como se (des)articulam, mostran<strong>do</strong> suas ambigüidades e contradições.<br />

Como se verifica na sociedade mais ampla, também no espaço sociohistórico<br />

das quebradeiras de coco existe uma divisão de trabalho que define tanto o lugar<br />

feminino quanto o masculino. A maioria das pessoas envolvidas na quebra<br />

<strong>do</strong> coco babaçu é <strong>do</strong> gênero feminino, sen<strong>do</strong> comum os homens coletarem e as<br />

mulheres quebrarem o coco. Entretanto, há homens que quebram coco, mesmo<br />

ten<strong>do</strong> tradicionalmente como atividade, a agricultura.<br />

A idealização <strong>do</strong> homem como chefe da família e, portanto, prove<strong>do</strong>r, contribui<br />

para que a renda feminina <strong>do</strong> extrativismo seja vista apenas como uma<br />

mera ajuda na manutenção familiar. Contu<strong>do</strong>, algumas mulheres, contrariamente,<br />

afirmam ser a sua renda que garante o sustento. Dalvanir de Jesus, participante<br />

<strong>do</strong> MIQCB e mora<strong>do</strong>ra de Monte Alegre, afirmava que, quan<strong>do</strong> ia quebrar coco,<br />

a opinião de seu mari<strong>do</strong>, “Era de que eu fosse, por causa que ele ia trabalhar da<br />

roça e eu pro mato quebrar coco […] Quem dava o mantimento, as coisa era eu,

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