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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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82<br />

n e a D e S p e C i a l<br />

Uma benzedeira, para lidar com bruxaria, tem que “ter muita força” e saber<br />

uma série de prescrições para receitar aos seus clientes, pois muitas vezes, por<br />

longo perío<strong>do</strong>, além de palavras serão necessários banhos e outros ritos.<br />

O repertório das práticas de caráter medicinal é transmiti<strong>do</strong> pelas mulheres<br />

por várias gerações. Em cada família se produzem práticas medicinais simples,<br />

baseadas numa farmacopéia popular, sen<strong>do</strong> complexificadas na medida em que<br />

os encantamentos e fórmulas mágicas faladas em pomerano e alemão constituam<br />

lugar importante nestas práticas quan<strong>do</strong> aplicadas nos casos de <strong>do</strong>enças comuns<br />

e acusações de bruxaria.<br />

Vemos que o segre<strong>do</strong> das técnicas, a questão moral, o não-pagamento em<br />

dinheiro, a explicação da <strong>do</strong>ença para o <strong>do</strong>ente através de uma linguagem mítica,<br />

são elementos que constituem o caráter defini<strong>do</strong>r de uma benzedeira.1 Os mesmos<br />

aspectos são ressalta<strong>do</strong>s por Lévi-Strauss (1985, p.205-206) ao descrever a<br />

experiência <strong>do</strong> feiticeiro Quesalid e os elementos construí<strong>do</strong>s pela crença coletiva<br />

defini<strong>do</strong>res da eficácia simbólica de um mágico.<br />

Temos outra narrativa de bruxaria contada pela mesma informante: Uma<br />

mulher conhecida trabalhava como empregada <strong>do</strong>méstica na casa de uma pomerana.<br />

Um dia passou uma senhora e pediu à <strong>do</strong>na da casa um pouco de manteiga.<br />

Esta lhe negou o pedi<strong>do</strong>, afirman<strong>do</strong> não possuir manteiga, pois não tinha como<br />

obtê-la. A partir deste dia, as vacas da <strong>do</strong>na da casa secaram e não deram mais<br />

leite. A senhora que havia pedi<strong>do</strong> manteiga passou a vender manteiga sem nunca<br />

ter ti<strong>do</strong> vacas em seu terreno. A vizinhança descobriu que atrás da porta havia<br />

um pano de prato (enxuga<strong>do</strong>r de vasilhas) que dele vertia leite.16<br />

Era assim, que as vacas de uma senhora beneficiavam a outra, que nunca<br />

tivera recursos.<br />

Neste caso, temos novamente acionada a imagem <strong>do</strong> dito popular, ressaltan<strong>do</strong><br />

na construção das identidades étnica e social o grau de conflitos entre os pomeranos<br />

e destes com os brasileiros: “A morte de um é a herança <strong>do</strong> outro!.”<br />

5 Segun<strong>do</strong> vários informantes, as benzedeiras mais antigas possuíam o Sieben Moises. Durante o<br />

trabalho de campo não pude averiguar a existência deste livro. Sieben Moises significa o sétimo<br />

livro de Moisés. este é composto por fórmulas de benzeção escritas em alemão. Suas fórmulas<br />

funcionam tanto para causar o bem quanto para o mal. Somente as benzedeiras possuíam tal<br />

livro. neste livro, a benzedeira poderia encontrar fórmulas para causar tanto uma coisa boa<br />

quanto ruim. Caso pratique o mal, nunca mais esta poderá fazer o bem, pois perderá toda a<br />

sua força. Seu conhecimento só lhe confere poder para o bem. outro instrumento mágico é<br />

o himmelsbrief (a carta celeste). Caso a carta celeste fosse posta no bolso <strong>do</strong> paletó, nenhum<br />

tiro ou atitude negativa atingiria seu <strong>do</strong>no.<br />

6 a seqüência <strong>do</strong>s fatos, o retorno da bruxa, a confirmação <strong>do</strong> seu nome e sua denúncia são<br />

as fases que constituem o discurso da bruxaria.

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