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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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300<br />

n e a D e S p e C i a l<br />

Essa concepção pode ser também observada na Agenda 21, Conferência das<br />

Nações Unidas sobre Meio Ambiente e <strong>Desenvolvimento</strong>,10 de 1992, que apresenta<br />

as concepções sobre as relações técnicas e simbólicas, associan<strong>do</strong> mulher e meio<br />

ambiente. É interessante observar, nesse <strong>do</strong>cumento, os lugares onde a mulher<br />

aparece e também a que tipo de sustentabilidade ela é associada. Não é no capítulo<br />

19, sobre manejo ecologicamente saudável das substâncias químicas tóxicas, que<br />

apresenta uma clara preocupação produtivista, que a mulher aparece, mas, sim,<br />

no capítulo 3, sobre combate à pobreza, e no 24, sobre ação mundial pela mulher,<br />

com vistas a um desenvolvimento sustentável eqüitativo, que ela se faz presente.<br />

Isto revela uma visão da mulher como um ser recebe<strong>do</strong>r e não ativo na sociedade,<br />

ressaltan<strong>do</strong>-se o seu papel de mãe, ti<strong>do</strong> como constitutivo de sua natureza. Não é<br />

a partir de uma identidade profissional adquirida, como agricultora ou produtora<br />

rural, que ela é percebida, mas a partir de algo que ela já traz como destino de sua<br />

natureza biológica, ser mãe e cuidar de seus filhos e de sua casa.<br />

A segunda questão que precisa ser desmistificada nas políticas de desenvolvimento<br />

sustentável, propostas para os países <strong>do</strong> Sul, diz respeito à própria concepção<br />

estabelecida entre as pessoas e a natureza. É importante, dentro da mentalidade da<br />

auto-sustentabilidade, a reflexão acerca <strong>do</strong> mito da natureza intocável, perceben<strong>do</strong>-se<br />

que to<strong>do</strong> processo produtivo, é um processo de apropriação da “natureza.”11<br />

Segun<strong>do</strong> F. Brüseke (1997), a transformação da natureza pelo homem, por meio<br />

<strong>do</strong> desenvolvimento, desde os tempos mais remotos da história <strong>do</strong> homem, esteve<br />

ligada à luta contra os membros da própria espécie. Apoian<strong>do</strong>-se em estu<strong>do</strong>s como<br />

os de Gehlen (1957) e Sombart (1928), defende Brüseke (ibid). a perspectiva de<br />

que a técnica faria parte da essência <strong>do</strong> homem, porque seria por meio dela que<br />

ele se libertaria da necessidade de adaptação orgânica, válida para os animais, e<br />

capacitar-se-ia para a transformação das circunstâncias às suas necessidades.<br />

A técnica seria, para o homem, natureza artificial e essencial. A caracterização<br />

da técnica como natureza artificial e essencial <strong>do</strong> homem está em consonância com<br />

a percepção que Marx12 tem da relação que o homem estabelece com a natureza<br />

por meio <strong>do</strong> trabalho. O processo de trabalho que o homem impõe à natureza,<br />

0 unced (united nations Conference on environment and Development). agenda 2 . an easy<br />

reference to the specific recommendations on women. 995. capítulo 2 , item 2 .8, letra g.<br />

M. godelier, L’idéel et le matériel. Pensée, économies, sociétés. paris: Fayard. 98 . neste livro, o<br />

autor analisa como e até que ponto as realidades materiais, aquelas da natureza exterior ao<br />

homem e aquelas que ele mesmo criou e transformou, agem sobre a organização da sua vida<br />

social e, mais profundamente, sobre o processo de produção de novas formas de sociedade.<br />

Mas o que importa aqui notar é que a natureza, segun<strong>do</strong> o que ele destaca, é composta de<br />

vários tipos de materialidade, consideran<strong>do</strong> como parte desta, a ação <strong>do</strong> homem.<br />

2 g. lukács. lavoro. in: Per uma ontologia del’essere sociale. (texto mimeo). tradução de ivo<br />

tonet, universidade Federal de alagoas.

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