Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />
sanções de conduta na esfera das comunidades camponesas nas quais as tensões<br />
estruturais entre grupos <strong>do</strong>mésticos são comumente violentas, ainda que sejam<br />
silenciadas em nome <strong>do</strong> interesse da união e da coexistência vicinal.<br />
A religião camponesa para Wolf, não se explicaria unicamente em seus próprios<br />
termos. Ela funcionaria para “sustentar” e “equilibrar” o ecossistema camponês<br />
e a organização social, como também constituiria um componente da ordem<br />
ideológica mais ampla. Portanto, ela forjaria mais um elo <strong>do</strong> que ligaria o<br />
campesinato àquela ordem.<br />
Henri Mendras (1978), por sua vez, fundamenta<strong>do</strong> no campesinato francês,<br />
introduz seu pensamento a partir de uma assertiva bastante instigante em que<br />
to<strong>do</strong>s os teóricos <strong>do</strong> campesinato, segun<strong>do</strong> ele, estariam de acor<strong>do</strong> em atribuir<br />
uma importância capital à família, no estu<strong>do</strong> das sociedades camponesas.<br />
Tratan<strong>do</strong> o campesinato como algo rotineiro, e influencia<strong>do</strong> ainda pelo ranço<br />
chayanoviano, Mendras prossegue sua análise sobre sociedades camponesas reduzin<strong>do</strong><br />
a família à noção de grupo <strong>do</strong>méstico, ou seja, aqueles que vivem <strong>do</strong> mesmo<br />
pote e <strong>do</strong> mesmo fogo, <strong>do</strong> mesmo pão e <strong>do</strong> mesmo vinho, negan<strong>do</strong>, portanto, a<br />
relevância <strong>do</strong> parentesco para os estu<strong>do</strong>s sobre o campo.<br />
Para Mendras, a divisão sexual <strong>do</strong> trabalho estaria no interior <strong>do</strong> grupo <strong>do</strong>méstico.<br />
Nas sociedades camponesas as classes de idade e de sexo isolam-se na<br />
transmissão de uma parte da cultura e na dinâmica <strong>do</strong> vivi<strong>do</strong>, <strong>do</strong> coletivo, particularmente<br />
na organização das festas.<br />
Outrossim, para o autor, as únicas diferenciações de papéis que a sociedade<br />
camponesa conhece são as devidas ao sexo, idade e posição dentro da parentela<br />
ou <strong>do</strong> grupo <strong>do</strong>méstico, ou, finalmente, as devidas ao exercício de um ofício ou<br />
de uma função particular.<br />
Eis a ordenação social proposta por Mendras: papéis defini<strong>do</strong>s e estanques,<br />
coercitivamente exerci<strong>do</strong>s via controle social e engendra<strong>do</strong>s pela rotina. As relações<br />
sociais seriam, para ele, codificadas em um número restrito de situações<br />
e de intercâmbios, que por sua vez, seriam “claramente defini<strong>do</strong>s e conheci<strong>do</strong>s,”<br />
onde cada camponês cumpriria seu papel responden<strong>do</strong> “precisamente” às expectativas<br />
<strong>do</strong> próximo.<br />
Nesse apanágio analítico, o julgamento moral supõe uma moral válida e aceita<br />
por to<strong>do</strong>s, de forma que as divergências não apareçam senão em nuanças e práticas<br />
que dão lugar ao confronto de opiniões diversas.<br />
Assim, as sociedades camponesas parecem cimentar seu sistema social em<br />
um “arranjo” entre homogeneidade cultural e diversidade social. Para Mendras, a<br />
economia camponesa funcionaria essencialmente para responder às necessidades<br />
da família e, de forma mais abrangente, as da coletividade local.<br />
Para o camponês, é necessário entender a família camponesa, como uma unidade<br />
indissociável que conta ao mesmo tempo os braços que trabalham e as bo-<br />
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