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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

na<strong>do</strong> para o uso da nomeação mulher trabalha<strong>do</strong>ra rural em contextos discursivos<br />

específicos. Considero, no dizer de Bakhtin (1994), que a referida nomeação se<br />

insere numa determinada linguagem social, no caso, uma linguagem de direitos<br />

e cidadania que é calcada pelas lutas <strong>do</strong>s movimentos sociais. Entretanto, há que<br />

levar em conta as situações específicas de comunicação, ou seja, contextos típicos<br />

de fala para quem o enuncia<strong>do</strong> é endereça<strong>do</strong>.<br />

Finalmente, ao considerar o uso da nomeação mulher trabalha<strong>do</strong>ra rural a<br />

minha atenção será para as posições de pessoas que são invocadas no curso das<br />

interações discursivas. Dessa forma, longe de enfocar a ‘identidade da mulher<br />

trabalha<strong>do</strong>ra rural’ o que importa aqui é compreender os posicionamentos das<br />

mulheres como mulher trabalha<strong>do</strong>ra rural.<br />

O lugar e os caminhos da pesquisa<br />

Na atualidade, o Sertão se refere a uma vasta região geográfica no Nordeste, com<br />

um certo clima (o semi-ári<strong>do</strong>), uma vegetação (a caatinga) e ocorrência freqüente<br />

de um fenômeno ambiental (as secas). Comumente o termo é também utiliza<strong>do</strong><br />

para falar de um lugar marca<strong>do</strong> pelo atraso, pelo conserva<strong>do</strong>rismo e pelo subdesenvolvimento.<br />

Dessa região se conhece sobretu<strong>do</strong> os baixos indica<strong>do</strong>res sociais (fome, analfabetismo,<br />

mortalidade infantil, <strong>do</strong>enças endêmicas e baixa expectativa de vida).<br />

Em Pernambuco, o Sertão corresponde a 63,7% <strong>do</strong> território estadual, dividi<strong>do</strong><br />

em duas mesorregiões: São Francisco Pernambucano, com 15 municípios e<br />

Sertão Pernambucano, com 41 municípios. Em 2000 a população da região era<br />

de 1.377.586 habitantes, <strong>do</strong>s quais 44,2% viviam na zona rural.<br />

Vale salientar que o Sertão é uma região com características heterogêneas e<br />

profundas desigualdades sociais. Além disso, a ausência de uma política de desenvolvimento<br />

sustentável para o semi-ári<strong>do</strong>, que tenha como eixo a luta contra a<br />

exclusão aliada à criação de alternativas econômicas locais, condena a população<br />

pobre que vive da agricultura de subsistência a precárias condições de vida, que<br />

se agudizam nos perío<strong>do</strong>s de seca.<br />

Porém, há um Sertão em Pernambuco que se tornou conheci<strong>do</strong> como espaço<br />

de lutas e organização das mulheres rurais. Falo <strong>do</strong> Sertão Central. Bem mais <strong>do</strong><br />

que ao recorte espacial e às características sociodemográficas, refiro-me a essa<br />

região como um lugar (ou ‘terra da gente’) construí<strong>do</strong> pelas mulheres a partir das<br />

necessidades sentidas e <strong>do</strong> desejo de mudar a vida. Para isso, tomo como inspiração<br />

as reflexões de Peter Spink (2000, p. 5), para quem o lugar é toma<strong>do</strong> como<br />

uma “noção de coletividade possível, num espaço e tempo enraiza<strong>do</strong> fisicamente<br />

enquanto lugar onde se concretizam as lutas a partir <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> vivi<strong>do</strong>.” Dessa<br />

forma, o Sertão Central é discursivamente construí<strong>do</strong> como lugar a partir da ação<br />

das mulheres e das redes de relações tecidas.<br />

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