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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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220<br />

n e a D e S p e C i a l<br />

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uniformes, mostra<strong>do</strong>res de aeropuertos, centros de detención, juzga<strong>do</strong>s, campos de vacaciones para<br />

niños refugia<strong>do</strong>s. (Hacking, 2001, p. 33).<br />

O autor destaca que o que é construí<strong>do</strong> em primeira instância não é a pessoa<br />

individual, mas a classificação como um tipo de pessoa específica. A matriz pode<br />

afetar a mulher individualmente. Sua existência é moldada pela construção da<br />

matriz e ela é construída socialmente como certa espécie de pessoa.<br />

As instituições, os lugares, os profissionais, os procedimentos burocráticos,<br />

os <strong>do</strong>cumentos e até o vestuário, ou seja, toda uma materialidade que é produzida<br />

e ao mesmo tempo produz a mulher como trabalha<strong>do</strong>ra rural. O processo de<br />

constituição da matriz é fruto de negociações complexas e as fronteiras são mutáveis,<br />

móveis e contingentes. No caso das trabalha<strong>do</strong>ras rurais, elas são participantes<br />

ativas da construção da matriz junto com outras forças sociais. Não há de um<br />

la<strong>do</strong> as mulheres que se posicionam como trabalha<strong>do</strong>ras rurais e de outro a matriz,<br />

mas sim complexas redes que envolvem objetos, artefatos, pessoas, nomeações em<br />

processos de co-produção.<br />

Desta maneira, ainda que de forma breve, é possível identificar na formação<br />

da matriz mulher trabalha<strong>do</strong>ra rural, nos moldes de Hacking:<br />

o ‘surgimento’ de reflexões sobre o trabalho feminino na agricultura familiar alia<strong>do</strong> às lutas<br />

femininas contra a desigualdade de gênero e pela ampliação <strong>do</strong>s direitos sociais para<br />

as mulheres. No Brasil estas lutas alcançaram maior visibilidade a partir <strong>do</strong> final<br />

<strong>do</strong>s anos 1970 e se constituem, no dizer de Elizabete Lobo (1991, p. 273), a partir<br />

de três correntes: as práticas das mulheres nos movimentos, os discursos sobre<br />

dignidade elabora<strong>do</strong>s nos movimentos populares e os discursos feministas;<br />

a criação de espaços, de vínculos e de articulações sociais que permitiram a circulação<br />

de conversas, reflexões e ações sobre a vida das mulheres que vivem e trabalham<br />

na área rural. Alguns espaços e vínculos foram recria<strong>do</strong>s e alimenta<strong>do</strong>s a partir de<br />

instituições já existentes, como o movimento sindical rural, as agências de cooperação<br />

internacional e as ONGs feministas;<br />

a constituição das mulheres como mulher trabalha<strong>do</strong>ra rural como um certo tipo de<br />

pessoa que trabalha na agricultura, reside na área rural e vive em condições de vida<br />

muito precárias. Por ser assim situada deve congregar um conjunto de atributos,<br />

habilidades, inscrições corporais e <strong>do</strong>cumentos que expressem para os (as) outros(as)<br />

quem ela é;<br />

a produção de textos, imagens, poesias, músicas e correspondência que permitiram a<br />

propagação em diferentes lugares e espaços sociais da nomeação mulher trabalha<strong>do</strong>ra<br />

rural para além das fronteiras locais e regionais.<br />

O segun<strong>do</strong> aspecto que é importante enfatizar diz respeito às práticas discursivas<br />

como prática social e como linguagem em ação. O meu interesse é direcio-

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