Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
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n e a D e S p e C i a l<br />
desigualdade vivenciada pelas mulheres no acesso a serviços e bens sociais: o analfabetismo<br />
é maior entre as mulheres, a discriminação na possibilidade de participar<br />
como sócias ativas nas cooperativas, as diferenças na ingesta nutricional, a exclusão<br />
das mulheres da capacitação técnica, etc. Insiste Campillo (1993: 19), na dimensão<br />
econômica para enfocar uma realidade como a da agricultura centro-americana,<br />
que não obedece somente a reivindicações de igualdade no plano das relações<br />
entre os gêneros, mas também na necessidade de superar restrições à eficiência<br />
interna das pequenas unidades de produção, limitações quanto ao crescimento e<br />
modernização da agricultura e ao manejo mais adequa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s recursos naturais.<br />
Já a interpretação que prevalece em movimentos ambientalistas, de cunho<br />
ecofeminista, que valorizam o papel da mulher junto à natureza, é a de que o<br />
problema de o status da mulher ser inferior ao <strong>do</strong> homem em nossa sociedade<br />
está relaciona<strong>do</strong> ao modelo de <strong>do</strong>minação patriarcal, que impera no capitalismo, o<br />
qual não valoriza como deveriaas tarefas “produtivas” e “reprodutivas” próprias da<br />
mulher.1 Tal perspectiva se apresenta com clareza na argumentação de Cordeiro<br />
(1994), que defende que “a promoção e valorização <strong>do</strong> setor de produção de autoconsumo<br />
na pequena produção familiar – locus de trabalho da mulher – é um<br />
passo fundamental no combate à fome no campo, na conservação <strong>do</strong>s recursos<br />
genéticos e no reconhecimento da mulher agricultora como agente produtivo.”<br />
(CORRAL, 1994: 29) Chama a autora a atenção para a necessidade de se valorizar<br />
o alto envolvimento da mulher na produção de autoconsumo familiar – cultivo<br />
e processamento de alimentos, criação de animais, costura, artesanato, haja vista<br />
que ele não é concebi<strong>do</strong> como atividade produtiva, porque não gera, ou gera pouco<br />
dinheiro, sen<strong>do</strong>, portanto, bastante desvaloriza<strong>do</strong>.<br />
Cordeiro (1994: 29), propõe, então, que se deve demonstrar que esse trabalho<br />
“próprio da mulher” tem alto valor econômico para a subsistência da família, comparan<strong>do</strong>,<br />
para isso, o que é produzi<strong>do</strong> pela mulher para consumo familiar com o<br />
preço da cesta básica. Segun<strong>do</strong> ela, muitas iniciativas que visam valorizar o trabalho<br />
da mulher, fazen<strong>do</strong> um grande esforço para a sua participação nas atividades<br />
de merca<strong>do</strong>, geralmente controladas pelo homem, acabam reforçan<strong>do</strong> a visão de<br />
que o setor de produção de subsistência é “perfumaria,” além de implicarem um aumento<br />
substantivo da sobrecarga de trabalho da mulher. Portanto, para ela, o que<br />
parece necessário é a valorização social <strong>do</strong> trabalho da mulher dentro <strong>do</strong> setor de<br />
produção de autoconsumo, valorizan<strong>do</strong> uma função que “é própria da mulher.”<br />
8 andrea nye. teoria feminista e as filosofias <strong>do</strong> homem. rio de Janeiro: rosa <strong>do</strong>s tempos, 995.<br />
a autora, ao analisar as representações da feminilidade e da masculinidade, defende que, seja<br />
na mente das pessoas, seja na cultura popular, seja na ciência ou na filosofia, as representações<br />
sexistas devem ser examinadas independentemente de serem burguesas ou proletárias.