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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

sociedade dividida em gêneros, na qual, em grande proporção, as mulheres foram<br />

e são silenciadas e esquecidas.<br />

Muitas produções musicais e artísticas que, embora geralmente tenham autorias<br />

individuais, são (re)apropriadas receben<strong>do</strong> significa<strong>do</strong> coletivo impresso<br />

na historicidade e cotidianidade dessas mulheres. A “Música <strong>do</strong> Movimento,”<br />

por exemplo, é um de tantos cantos que enfatiza a afirmação da identidade de<br />

quebradeiras de coco, bem como a sua integração coletiva nos quatro Esta<strong>do</strong>s em<br />

que atua o Movimento:<br />

Eu sou quebradeira, eu sou quebradeira e vim para lutar<br />

Pelos meus direitos, pelos meus direitos vim reivindicar<br />

Mais educação e saúde pra toda nação.<br />

Eu sou quebradeira, sou mulher guerreira e venho <strong>do</strong> sertão.<br />

No Tocantins tem quebradeira, no Piauí tem quebradeira, lá no Pará tem<br />

quebradeira, no Maranhão estão as quebradeiras. (VEIQCB, 2004)<br />

A identificação com o trabalho por parte dessas extrativistas é fundamental<br />

para manter viva e intensa a sua mobilização, reforçan<strong>do</strong> a luta para obter políticas<br />

públicas em prol <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res rurais. Desse ponto de vista, a valorização<br />

de uma identidade grupal foi fundamental para que essas mulheres buscassem caminhos<br />

para atingir seus objetivos. Elas almejam ainda, alcançar representatividade<br />

dentro de uma sociedade onde as condições étnico-racial e de gênero apontam<br />

para a exclusão de muitos e inclusão de poucos, como é níti<strong>do</strong> no que diz Maria<br />

Chagas (Barros; Chagas et. al., 2004) a respeito de si e de suas companheiras<br />

de luta: “Até hoje a gente é discriminada […] se a gente é pobre, quebradeira de<br />

coco e negra a gente é discriminada.” O fato é que muitas quebradeiras de coco<br />

sofrem uma tripla exclusão: étnico-racial, de gênero e de classe.<br />

Ora, como sabemos,<br />

Muitas vezes o discurso sobre a igualdade universal <strong>do</strong>s seres humanos ocultou a desigual-<br />

dade histórica e cultural na experiência vivida. E este “oculto” ou este “vela<strong>do</strong>” certamente<br />

atingiu muito mais as mulheres <strong>do</strong> que os homens, muito mais os negros <strong>do</strong> que os brancos,<br />

muito mais os pobres <strong>do</strong> que os ricos (Gebara, 2000, p. 45).16<br />

6 De fato, “raça”/etnia, gênero e classe constituem categorias que, de mo<strong>do</strong> inter-relaciona<strong>do</strong>,<br />

inscrevem muitas experiências vividas. gilroy (200 ), partin<strong>do</strong> da idéia de hall (200 ) de que<br />

a raça é a modalidade na qual a classe é vivida, sugere que o gênero é a modalidade na qual<br />

a raça é vivida. a nosso ver, cabe usar o termo “raça” referin<strong>do</strong>-se a algo a ser descrito, mas<br />

não como uma categoria analítica.<br />

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