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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

Os momentos de reflexão e formação promovi<strong>do</strong>s pela AMTR e pela Assema<br />

podem ser espaços <strong>do</strong>lorosos para as lideranças alvo de violência <strong>do</strong>méstica e estas<br />

normalmente tentam evitar essa discussão.<br />

A gente percebe que em alguns espaços o problema maior é quan<strong>do</strong> vai discutir, quan<strong>do</strong><br />

entra para a família. (…) Tem mulheres, por exemplo, é muito forte politicamente, são re-<br />

almente lideranças e que quan<strong>do</strong> a gente está, por exemplo, numa oficina e aí vai ter uma<br />

abordagem de saúde reprodutiva, violência <strong>do</strong>méstica ou Lei Babaçu Livre. Elas optam<br />

pela Lei Babaçu Livre. Embora elas sejam expert no assunto. São pessoas que poderiam<br />

fazer essa opção, o me<strong>do</strong> de trabalhar algumas coisas, mexer por dentro da gente. Então<br />

às vezes elas não conseguem ficar na reunião. Elas ficam sain<strong>do</strong> para ir fumar, ir tomar<br />

café. (…) Porque um pouco de me<strong>do</strong> de se deparar com ela mesma. Porque tem a coisa<br />

de estar com seus colegas, embora ela não esteja falan<strong>do</strong>, mas as colegas sabem, porque<br />

moram na mesma comunidade. (…) Sim, existem ótimas lideranças que apanham <strong>do</strong><br />

mari<strong>do</strong>, que não podem vir hoje na reunião porque o mari<strong>do</strong> não deixou sair de casa.<br />

(Ana Carolina, 2002)<br />

Algumas lideranças femininas <strong>do</strong> movimento – que enfrentaram os jagunços,<br />

os fazendeiros, os policiais, os políticos – são esposas frágeis dentro das quatro<br />

paredes de suas casas. São ameaçadas em sua sexualidade, em sua integridade<br />

física e psicológica, não têm voz nas decisões familiares e ainda têm de lutar pelo<br />

seu direito de ir e vir, de participar <strong>do</strong>s encontros, reuniões, viajar…<br />

Embora essa não seja a situação da maioria das lideranças femininas, e isso é<br />

importante frisar, é ainda a história de demasiadas quebradeiras de coco babaçu,<br />

fechadas em suas casas, com seu espaço de circulação restrito e com seus direitos<br />

nega<strong>do</strong>s. O que nos deixa a questão: Como transferir o empoderamento coletivo<br />

construí<strong>do</strong> durante esse caminho de luta pelo acesso e proteção <strong>do</strong>s babaçuais<br />

para o empoderamento individual na esfera familiar?<br />

Nesta história foram identificadas três linhas principais de luta por direitos<br />

das mulheres na esfera privada: proteção das palmeiras de babaçu nos lotes familiares,<br />

participação na vida política e social e estar livre da violência. A Assema<br />

e o MIQCB têm prioriza<strong>do</strong> as primeiras duas linhas de luta pelos direitos das<br />

mulheres apresentadas.<br />

A luta pelo direito de acesso e proteção das palmeiras de babaçu é o objetivo<br />

principal <strong>do</strong> MIQCB e encontra-se no centro da estratégia da Assema. Pelo fato<br />

<strong>do</strong>s fazendeiros serem os que cometem os maiores abusos, eles têm si<strong>do</strong> os alvos<br />

principais desta luta. Contu<strong>do</strong>, ambas as organizações vêm fazen<strong>do</strong> um forte<br />

trabalho educacional com as famílias agroextrativistas sobre as potencialidades<br />

de consorciar as palmeiras de babaçu e a produção agrícola, seguin<strong>do</strong> um modelo<br />

agroecológico de produção. Esse trabalho tem mostra<strong>do</strong> aos mari<strong>do</strong>s as potencia-<br />

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