Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />
marca<strong>do</strong>r na construção de uma identidade onde o universo “rural” é referência<br />
até na forma de se vestir.<br />
A relação com o ga<strong>do</strong> e especialmente com o cavalo descortinou diferentes<br />
maneiras <strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s “jovens” se relacionarem com o assentamento, representan<strong>do</strong><br />
para alguns, principalmente filhos homens, um vínculo marca<strong>do</strong> pela<br />
produção e a construção de projeções para uma futura sucessão. Mas mesmo para<br />
os que não se percebem dessa forma, representa vínculos de lazer e sociabilidade<br />
que tem como marca a identificação com esse universo rural, contribuin<strong>do</strong> para<br />
se perceber nuances nas formas de “sair” e “ficar” em El<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>. Os “jovens” caracterizam<br />
essa nova realidade através <strong>do</strong>s elementos associa<strong>do</strong>s à tranqüilidade da<br />
vida no campo, mas também, dão forte ênfase à agricultura e à criação de animais,<br />
que aparecem como defini<strong>do</strong>res desse mun<strong>do</strong> rural. A identificação com esse<br />
mun<strong>do</strong> rural articula elementos como a luta pela terra, a nova rede de amizades,<br />
o trabalho na roça e os “prazeres” desse novo mun<strong>do</strong> como andar a cavalo. Através<br />
dessas inserções pode-se explicar a caracterização “positiva” que descreve essas<br />
áreas rurais (El<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>, Morro das Pedrinhas e mesmo Chaperó) com adjetivos<br />
tais como bonito, tranqüilo, calmo e substantivos como natureza e paz. Essa caracterização,<br />
muitas vezes, é construída em oposição a um universo urbano <strong>do</strong>s municípios<br />
da Baixada Fluminense, familiar a esses “jovens” e fortemente associa<strong>do</strong> à<br />
violência, confusão, perigo, lugar feio. No entanto, em contraposição a esses laços e a<br />
essas identificações aparecem discursos, principalmente das “jovens,” que rompem<br />
com essas construções e geram os processos de “saída.” A autoridade paterna e<br />
o controle social de um la<strong>do</strong>, e a criação que distingue filhos e filhas são fatores<br />
que podem explicar essas diferentes atitudes de “jovens” que compartilham experiências<br />
de vida, em relação a uma mesma localidade. A divisão <strong>do</strong> trabalho se<br />
reflete na sucessão e na relação com o lote/terra, que também estão atravessadas<br />
pelo para<strong>do</strong>xo “ficar e sair,” que será discuti<strong>do</strong> a seguir.<br />
herança, sucessão – a exclusão das mulheres<br />
O debate sobre a questão da sucessão no meio rural é amplo (Bourdieu, 1962;<br />
Champagne, 1979; Carneiro, 1998; Abramovay, 1998; Arensberg e<br />
Kimballi, 1968 Moura, 1978; Woortmann 1995), em comum o fato de o<br />
processo de sucessão/herança, via de regra, excluir as mulheres. Segun<strong>do</strong> Bourdieu<br />
(1962) a herança possui uma função social definida, qual seja, dar continuidade<br />
à exploração da propriedade familiar. Bourdieu ressalta a importância <strong>do</strong><br />
direito à propriedade, onde a possibilidade de “agir como proprietário” ou como<br />
“futuro proprietário” é valoriza<strong>do</strong> socialmente. Esse status, no entanto, varia de<br />
acor<strong>do</strong> com as influências externas e as novas perspectivas para os filhos na sua<br />
relação com os núcleos urbanos.<br />
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