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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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330<br />

n e a D e S p e C i a l<br />

petin<strong>do</strong> minha pergunta, assim: “Assim… Quan<strong>do</strong> a mulher… Ela não tem to<strong>do</strong><br />

mês… Ela não tem aquele negócio que vem…? (…) Quan<strong>do</strong> tiver a ‘monstruação’<br />

não pode usar. (…) É isso mesmo não pode usar. Por que com menstruação não<br />

pode, né… Porque está com o corpo aberto.”<br />

Para algumas mulheres casadas, a relação sexual entre o casal deve obedecer<br />

a uma certa parcimônia, principalmente para se “guardar” nos ciclos <strong>do</strong> corpo<br />

feminino, o da menstruação e o <strong>do</strong> pós-parto. Mas, para a depoente [59 anos], as<br />

relações sexuais não devem ser to<strong>do</strong>s os dias, têm que ser um dia sim outro não<br />

porque, segun<strong>do</strong> ela: “tem eles aí que diz que faz mal, (…) porque senão pode dar<br />

inflamação,” sobretu<strong>do</strong> nos dias de menstruação, quan<strong>do</strong> a mulher está com o<br />

“corpo aberto.” Ela contou-me que a mãe dela passou tal ensinamento e é o que ela<br />

também passou para as filhas. Porém, na narrativa dessas mulheres e lembranças<br />

das histórias de vida de suas avós ou mesmo das próprias mães não é incomum<br />

ouvir casos de violência por parte <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, durante os perío<strong>do</strong>s de “resgar<strong>do</strong>”<br />

após um parto, devi<strong>do</strong> a uma recusa feminina em manter relações sexuais.<br />

Nas palavras da mulher [59 anos] também se vislumbra algumas informações<br />

que já são da ordem médica quan<strong>do</strong> ela diz que o casal não pode ter relações<br />

sexuais to<strong>do</strong>s os dias porque senão a mulher tem inflamação. Disto, muito provavelmente<br />

já se tem uma aproximação ou uma mistura <strong>do</strong> saber popular com<br />

influência da moral cristã – através <strong>do</strong> controle <strong>do</strong> sexo e inibição <strong>do</strong> prazer – com<br />

a medicina. Ao que tu<strong>do</strong> indica, o corpo e não menos o corpo feminino não deixou<br />

de ser objeto de curiosidade, tampouco deixou de ser alvo das intenções de<br />

submetê-lo a algum tipo de normatização (Barreto, 2000) e de violência.<br />

Não obstante, sublinho que a questão <strong>do</strong> comportamento machista, neste<br />

município, contribui para aumentar as estatísticas de problemas que acabam por<br />

ser diretamente relaciona<strong>do</strong> com a sexualidade, mas trata<strong>do</strong>s e problematiza<strong>do</strong>s<br />

pelo viés biológico, logo, questão da saúde pública, sobretu<strong>do</strong> pelo que diz respeito<br />

talvez porque estivesse com vergonha de que a filha, a depoente [ 8 anos, grávida], ouvisse<br />

que a mãe estava falan<strong>do</strong> sobre tal assunto. insistiu para a que a filha saísse da sala para ir ver<br />

a netinha que brincava fora da casa.<br />

8 outros relatos me trouxeram a dimensão das agressões que muitas mulheres das comunidades<br />

rurais de rosário das almas são vítimas, mas que não se tornam casos de acompanhamento<br />

ou mesmo de denúncia. Como a agressão sofrida por uma mulher grávida, entre cinco-seis<br />

meses de gestação, por não estar carregan<strong>do</strong> no ventre o bebê <strong>do</strong> sexo que o mari<strong>do</strong> queria,<br />

ou seja, ele queria uma menina e ela estava grávida de um menino. outro caso foi o de duas<br />

mulheres, mãe e filha, terem si<strong>do</strong> estupradas por um homem da comunidade rural em que<br />

viviam; tempos depois, tal violação torna-se pública devi<strong>do</strong> à gravidez de ambas. após terem<br />

as respectivas crianças, é que passam a ser atendidas por uma assistente social, mas mesmo<br />

assim as mães forçam a morte <strong>do</strong>s bebês, não lhes dan<strong>do</strong> comida. Soube-se que tal fato foi<br />

trata<strong>do</strong> com “descaso” pelos demais mora<strong>do</strong>res da comunidade.

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