18.04.2013 Views

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

O verbo utiliza<strong>do</strong> no tempo imperfeito é uma expressão das dificuldades<br />

apresentadas no decorrer <strong>do</strong> trabalho de campo, as quais foram paulatinamente<br />

superadas à medida que ficou claro que o meu trabalho não estava vincula<strong>do</strong><br />

à igreja. Minha compreensão de que o uso <strong>do</strong> imperfeito era uma estratégia de<br />

discurso, em parte resultante <strong>do</strong>s conflitos com os pastores, provocou a mudança<br />

de minha abordagem: passei a fazer as perguntas utilizan<strong>do</strong> o verbo no presente,<br />

muitas vezes, por meio de intérpretes, na língua pomerana, a fim de deixar clara<br />

a idéia de que meu entendimento era da continuidade da ação mágica até os<br />

dias atuais.<br />

As perguntas que fazia aos entrevista<strong>do</strong>s, seguidas <strong>do</strong>s exemplos <strong>do</strong>s ritos de<br />

passagem, eram as seguintes: o que significa ouwaglouba, quan<strong>do</strong> eles executam<br />

tais práticas, entendidas no senti<strong>do</strong> da<strong>do</strong> por eles a palavra superstição, e como<br />

executam tais práticas.<br />

No momento em que perguntava detalhadamente sobre palavras, gestos realiza<strong>do</strong>s<br />

no decorrer de alguns ritos de passagem, geralmente meus entrevista<strong>do</strong>s<br />

descreviam “secamente” as etapas necessárias. Quan<strong>do</strong> acrescentava gestos e palavras<br />

mágicas às suas descrições, a reação inicial era sorrir e afirmar que “não faziam<br />

mais” ou sequer mencionavam tais palavras. Atribuíam estas práticas aos antigos,<br />

seus parentes já faleci<strong>do</strong>s ou aos vizinhos. E simplesmente sorriam, afirman<strong>do</strong> em<br />

pomerano: Dat ist ouwagloba! (Ah, isto é superstição!). Ou então afirmavam: “Eu não<br />

sou bruxo, mas o vizinho é…!,” “O vizinho acredita nessas coisas, eu não…!.”<br />

Sempre que solicitava a descrição <strong>do</strong>s ritos de passagem, além <strong>do</strong> sorriso<br />

inicial, várias reações ocorriam durante a entrevista. A primeira reação era perguntarem<br />

como é que eu sabia da existência da expressão e das suas práticas. Eu<br />

afirmava que havia toma<strong>do</strong> conhecimento através de um pomerano que acreditava<br />

em ouwaglouba e não gostava da atitude repressora <strong>do</strong>s pastores mais antigos<br />

na história da comunidade.<br />

Desconfia<strong>do</strong>s, logo perguntavam se não foi o pastor atual que reclamou de<br />

alguém de sua família que acreditasse em “alguma superstição.” Depois pediam<br />

para não contar nada ao pastor, para que não fossem chama<strong>do</strong>s a atenção durante<br />

o culto. No final da entrevista concluíam que não faziam mais tais práticas, mas<br />

“somente seus vizinhos.” Pedia, então, para que falassem <strong>do</strong>s vizinhos. Novamente<br />

riam e acabavam por confirmar uma ou outra fórmula mágica realizada durante<br />

um batiza<strong>do</strong> de um sobrinho ou qualquer outro rito.<br />

Superstições e benzedeiras são temas evita<strong>do</strong>s em seus comentários até o momento<br />

em que é venci<strong>do</strong> o temor de que o pastor venha saber das suas idéias. Estes<br />

temas são alvos de reclamações <strong>do</strong>s pastores da região. A dificuldade de lidar com<br />

estas práticas e com a crença nas benzedeiras era constantemente externada nos<br />

momentos em que eu falava da pesquisa. A idéia de estudar a cultura pomerana<br />

era para vários pastores uma tentativa de que eu pudesse um dia lhes explicar “o

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!