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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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n e a D e S p e C i a l<br />

Não apenas a disputa pela autoridade da casa está presente nos cuida<strong>do</strong>s mágicos,<br />

mas também as mudanças que podem afetar a totalidade <strong>do</strong> grupo <strong>do</strong>méstico.<br />

Cabe ressaltar que na aliança matrimonial está em jogo uma luta, um ritual,<br />

no qual os cônjuges são suspeitos, e que no desenrolar <strong>do</strong>s ritos de presságio temos<br />

o princípio da autoridade liga<strong>do</strong> à vida e à morte da land. Mas os ritos mágicos<br />

não acabam na cerimônia da igreja. No final <strong>do</strong> casamento, ao sair é observa<strong>do</strong><br />

quem é o primeiro a pisar o pátio da igreja, pois será aquele que controlará a casa.<br />

Vemos, então, que a disputa pela autoridade apenas começou.<br />

O tiro da bruxa. A bruxaria como ordem moral<br />

Apesar de este assunto ser considera<strong>do</strong> tabu entre os pomeranos e não ser facilmente<br />

verbaliza<strong>do</strong> no decorrer <strong>do</strong> trabalho de campo, as categorias relativas à<br />

magia e sua importância na vida social existem na língua pomerana.<br />

Além da importância da palavra superstição (aberglauben/ouwaglouba = o<br />

que está acima da fé), como vimos anteriormente, há termos que designam o ato<br />

de benzer (Bispreeka), a benzedeira (bispreekar), benzedura (bispreekarich), as<br />

variedades de <strong>do</strong>enças (espinhela caída = vorbrooka, mau-olha<strong>do</strong> = slechtouchan),<br />

bruxa (botarhejs = borboleta noturna ou bruxa e hex = bruxa), bruxaria (hexarich)<br />

e o verbo embruxar, enfeitiçar (farhexa).<br />

A existência de tais termos na referida língua mostra a importância que a<br />

magia, especialmente a bruxaria, possui nos principais ritos de passagem <strong>do</strong> grupo.<br />

Seu significa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s termos também evidencia de que forma os pomeranos<br />

aqui estuda<strong>do</strong>s lidam com seus infortúnios e por que estes são relaciona<strong>do</strong>s à<br />

bruxaria. O infortúnio sempre remete a um conjunto de fatos que se repetem<br />

num círculo vicioso. “A colheita falha, um parente a<strong>do</strong>ece, o merca<strong>do</strong> de verdura<br />

está ruim,” são exemplos de uma série de idéias negativas repetidas numa<br />

sucessão de fatos.<br />

À semelhança da análise de Pritchard (1978) sobre a bruxaria entre os Azande,<br />

a sucessão de infortúnios é também interpretada pelos pomeranos como<br />

bruxaria. Conforme a comparação realizada pelo autor entre os significa<strong>do</strong>s<br />

de bruxaria para os Azande e de azar para a sociedade ocidental, com reflexos<br />

nas atitudes de ambos.<br />

Além da recorrência <strong>do</strong> significa<strong>do</strong> nos vários termos da língua deve ser também<br />

considerada a forma como os pomeranos abordam o assunto com o uso<br />

distinto <strong>do</strong> tempo verbal. Verificamos o uso <strong>do</strong> tempo verbal no pretérito imperfeito.<br />

Este uso não se refere apenas à estratégia de desvincular a importância<br />

atribuída pelo grupo ao tema no tempo presente. A narrativa mágica no tempo<br />

passa<strong>do</strong> confere ao grupo uma marca identitária ao produzir uma história mítica,<br />

atemporal, que reaviva sua forma de ler e se identificar no mun<strong>do</strong> social.

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