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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

público. Com sua resposta os jovens apareciam ocupan<strong>do</strong> um papel central nos<br />

problemas que podiam estar enfrentan<strong>do</strong> na produção, e, ainda, como “pivôs” de<br />

uma possível descontinuidade <strong>do</strong> projeto coletivo que o assentamento representa.<br />

Uma de suas preocupações, e de outros informantes, era o ingresso de alguns<br />

jovens no Exército e conseqüente saída <strong>do</strong> El<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>. O suposto desinteresse <strong>do</strong>s<br />

jovens pela terra – compreenden<strong>do</strong> a dimensão <strong>do</strong> trabalho familiar no lote e o<br />

próprio assentamento como acesso da família à terra – foi apresenta<strong>do</strong> como um<br />

problema crucial, e, portanto, mais valoriza<strong>do</strong> que outros, <strong>do</strong>s quais só tomaria<br />

conhecimento ao longo <strong>do</strong> trabalho de campo.<br />

Ao retornar a El<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>, <strong>do</strong>is anos após a primeira experiência, o cenário havia<br />

muda<strong>do</strong>. A associação tinha um novo presidente, que, para minha surpresa, e de<br />

acor<strong>do</strong> com minha percepção, tratava-se de uma “jovem.” Dália, solteira, 27 anos<br />

morava com os pais. À época da realização da primeira conversa com Tadeu,<br />

Dália ocupava o cargo de secretária na diretoria da APPME. Ela havia si<strong>do</strong> eleita<br />

para a presidência da associação em um mandato tampão, para substituir Tadeu,<br />

que havia sofri<strong>do</strong> um atenta<strong>do</strong> e saí<strong>do</strong> <strong>do</strong> assentamento. Mas, ao contrário da<br />

conversa com Tadeu e outros informantes, Dália não tocou no assunto jovem<br />

antes que eu colocasse a questão. Como o assunto não surgia perguntei se havia<br />

muitos “jovens” no assentamento e se era comum se alistarem no exército. Ela<br />

me respondeu que havia poucos e que <strong>do</strong>s que se alistaram apenas um tinha si<strong>do</strong><br />

chama<strong>do</strong> para servir. O alistamento militar seria corriqueiro, em função da idade<br />

<strong>do</strong>s “jovens,” não fosse pela ênfase negativa dada por Dália ao fato de muitos não<br />

conseguirem servir. A “queixa” indicava que ingressar nas Forças Armadas poderia<br />

ser o real desejo <strong>do</strong>s que se alistavam e não mera formalidade. Esse segun<strong>do</strong><br />

momento trouxe elementos novos para a construção da questão a ser investigada.<br />

Afinal, se os jovens não participavam e estavam in<strong>do</strong> embora, o que explicava a<br />

presença de Dália na presidência da Associação? Assim, por um la<strong>do</strong> tínhamos a<br />

presença de uma “jovem” em um papel prestigia<strong>do</strong> no assentamento e, por outro,<br />

persistia a imagem de que os jovens, no caso rapazes de 18 anos, tinham outros<br />

interesses que não o assentamento e o lote.<br />

Dália é filha de uma das famílias mais numerosas <strong>do</strong> assentamento. além de seus pais, uma<br />

de suas irmãs também é assentada, em outro lote. e outra irmã com sua família nuclear havia<br />

si<strong>do</strong> assentada e saí<strong>do</strong> de el<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>. ela e um <strong>do</strong>s seus irmãos participaram <strong>do</strong> acampamento<br />

que originou o projeto de assentamento Casas altas.<br />

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