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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

Não foi o único ato de violência na região. Antes, segun<strong>do</strong> o Centro de Educação<br />

e Cultura <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r Rural (Centru), havia si<strong>do</strong> assassina<strong>do</strong> Pedro<br />

Teixeira, presidente da Liga Camponesa de Sapé.<br />

“Segun<strong>do</strong> a imprensa da época, o pistoleiro que assassinou Pedro Teixeira incriminou em<br />

julgamento a Aguinal<strong>do</strong> Veloso Borges, <strong>do</strong>no da Usina Tanques. Aguinal<strong>do</strong> que era sexto<br />

i suplente de deputa<strong>do</strong>… ao fim de poucas horas passou de sexto suplente para efetivo,<br />

adquirin<strong>do</strong> imunidade parlamentar, sen<strong>do</strong> o processo suspenso.”<br />

“… o filho de um Senhor de Engenho espancou uma mora<strong>do</strong>ra de suas terras, sen<strong>do</strong><br />

esta velha e aleijada. Toman<strong>do</strong> conhecimento <strong>do</strong> fato, o Sindicato de Alagoa Grande, na<br />

pessoa de <strong>Margarida</strong> Maria <strong>Alves</strong>, moveu um processo no valor de 2 milhões e trezentos<br />

mil cruzeiros. João Carlos de Melo, pai <strong>do</strong> agressor e proprietário <strong>do</strong> Engenho Genipapo<br />

teria ameaça<strong>do</strong> <strong>Margarida</strong> e a mora<strong>do</strong>ra dizen<strong>do</strong> que ‘ela podia receber o dinheiro mas<br />

não ia gastar’” (Centru, s/d).<br />

A morte de <strong>Margarida</strong> <strong>Alves</strong>, contu<strong>do</strong>, não foi em vão. Ela se tornou inspiração<br />

para que muitas outras mulheres, Elisabetes, Marias, Franciscas, desafiassem suas<br />

antigas situações de gênero e se tornassem líderes rurais. Assim, homenagean<strong>do</strong><br />

<strong>Margarida</strong>, homenageia-se nesta coletânea to<strong>do</strong> esse contingente feminino que,<br />

com freqüência, permanece em posições subalternas na luta sindical, no trabalho<br />

cotidiano e na ótica das autoridades e mesmo no discurso acadêmico. É o caso<br />

das mulheres seringueiras, cuja participação nos chama<strong>do</strong>s “empates” tem si<strong>do</strong><br />

fundamental (Cf. Woortmann, 1997) ou cuja atividade agrícola tem si<strong>do</strong> tão<br />

importante quanto a pesca (masculina) em comunidades definidas apenas como<br />

“pesqueiras) (Woortmann,1992).<br />

Além de homenagear a trabalha<strong>do</strong>ra rural, esta Coletânea possui um objetivo<br />

a médio e longo prazo, como subsídio para a formulação e otimização de políticas<br />

públicas e para a atuação de instituições e entidades, públicas ou privadas, voltadas<br />

para o atendimento das demandas das mulheres rurais e das comunidades tradicionais.<br />

Ela pretende ser também, assim como o próprio Prêmio que ela expressa,<br />

um estímulo a trabalhos acadêmicos volta<strong>do</strong>s para a questão da cidadania.<br />

Os trabalhos apresenta<strong>do</strong>s permitem identificar algumas questões significativas.<br />

Em primeiro lugar, destaca-se a pequena participação masculina entre<br />

os candidatos ao Prêmio. De um total de 49 trabalhos inscritos e homologa<strong>do</strong>s,<br />

somente três foram apresenta<strong>do</strong>s por homens. Dentre os 13 seleciona<strong>do</strong>s, apenas<br />

um homem teve seu trabalho premia<strong>do</strong>.<br />

Quanto aos temas escolhi<strong>do</strong>s, identificam-se três conjuntos, que se sobrepõem<br />

e interpenetram – temas tradicionais, temas atuais e temas emergentes. Dentre<br />

os primeiros, temos aqueles que lidam, desde uma ótica de inspiração marxista,<br />

com a relação entre processo de trabalho e capitalismo, identidade e migração, por<br />

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