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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />

organizações específicas de mulheres trabalha<strong>do</strong>ras rurais, consubstancian<strong>do</strong><br />

um movimento social de mulheres trabalha<strong>do</strong>ras rurais, como uma produção<br />

coletiva. Assim, fui em busca <strong>do</strong> “trabalho social” de construção <strong>do</strong> objeto<br />

“preconstruí<strong>do</strong>,” nas palavras de Bourdieu (1975), e deparei-me com a questão<br />

de uma categoria social fabricada coletivamente, numa produção de vários<br />

agentes sociais e práticas políticas intercaladas por experiências femininas de<br />

mulheres <strong>do</strong> campo.<br />

Categoria aqui é entendida no senti<strong>do</strong> referi<strong>do</strong> por Bourdieu (1999,p.17) para<br />

quem “a palavra ‘categoria’ impõe-se por vezes porque tem o mérito de designar<br />

ao mesmo tempo uma unidade social – a categoria <strong>do</strong>s agricultores – e uma<br />

estrutura cognitiva, e de tornar manifesto o elo que as une.” É uma forma de ser<br />

e de conhecer (esse ser), numa unidade que sinaliza “a concordância entre as<br />

estruturas objetivas e as estruturas cognitivas, entre a conformação <strong>do</strong> ser e as<br />

formas de conhecer” (idem,p.17).<br />

Mas, essa concordância que permite o conhecer de uma categoria social implica<br />

também um processo de reconhecimento pelo qual ganha visibilidade e<br />

legitimidade, expressan<strong>do</strong>-se por imagens, práticas, falas e espaços de mo<strong>do</strong> a<br />

conquistar uma outra vida, a vita activa, no senti<strong>do</strong> que é atribuí<strong>do</strong> por Arendt<br />

(1995) significan<strong>do</strong> a vida humana empenhada em fazer algo, em agir. E o agir<br />

pressupõe aliança entre pessoas, organização, presença de outros, vida pública<br />

onde é possível constituir-se em ser “conscientemente existente” (idem, 1993,p.24).<br />

Esse tornar-se um Eu, diferente de outros, nos leva ao encontro da problemática<br />

da identidade desse grupo de mulheres, e reivindicou meu olhar sobre esse controverti<strong>do</strong><br />

conceito nas ciências sociais, e que está sen<strong>do</strong> colocada neste contexto<br />

como identidade construída coletiva e politicamente, como apresentação e estratégias<br />

de um grupo social, as mulheres trabalha<strong>do</strong>ras rurais.<br />

Os processos que permitem o estabelecimento das mulheres rurais como<br />

categoria específica, manifestam-se como uma produção coletiva. Produção que<br />

pode ser aduzida como uma poética, no senti<strong>do</strong> original dessa palavra, de ser<br />

uma criação. A esta produção atribuí a idéia de “construção” no senti<strong>do</strong> de que a<br />

categoria das mulheres trabalha<strong>do</strong>res rurais não se exprime apenas por processos<br />

estruturais, normalmente atribuí<strong>do</strong>s como determinantes de situações conseqüentes;<br />

e nem se mostra como reflexo imediato de uma tomada consciência<br />

política espontânea.<br />

Essa construção se distancia das idéias de determinação e de espontaneísmo,<br />

vincula-se a mecanismos conecta<strong>do</strong>s com a experiência das próprias mulheres<br />

rurais junto a outros grupos sociais que são articula<strong>do</strong>res políticos, e o próprio<br />

momento conjuntural em geral e em particular o das mulheres da zona rural.<br />

Esse propósito me levou a aproximar-me e a aproximar alguns autores que compreendem<br />

a realidade social como realidade construída. Castoriadis, para quem<br />

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