Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
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M a r g a r i D a a l V e S : C o l e t â n e a S o B r e e S t u D o S r u r a i S e g ê n e r o<br />
haven<strong>do</strong> a possibilidade de dependência parcial, de autonomia parcial e de constantes<br />
idas e vindas nesse percurso.<br />
O adiamento <strong>do</strong> casamento – ou constituição de nova família – seria outra<br />
característica <strong>do</strong> prolongamento da juventude. Constituir nova família, no contexto<br />
estuda<strong>do</strong>, não implica necessariamente separação da família de origem, sen<strong>do</strong><br />
mais comum o <strong>do</strong>micílio patrilocal. A independência <strong>do</strong>miciliar, portanto, não<br />
seria um critério adequa<strong>do</strong> para este contexto, assim como a independência material,<br />
pois a reciprocidade é característica <strong>do</strong> grupo. No entanto, é possível sugerir<br />
que o casamento12 e o nascimento <strong>do</strong> primeiro filho, se articula<strong>do</strong>s com outros<br />
fatores, podem constituir-se num marco de transição à adultícia.<br />
Observamos que, para diferenciar jovens de adultos, não basta o casamento<br />
ou a parentalidade,1 mas dependerá da relação estabelecida com esses fatos. Por<br />
exemplo, uma jovem mãe, cuja passagem pelo casamento foi rápida, logo culminan<strong>do</strong><br />
em separação, que reside com família de origem e cuja “maternidade” é<br />
compartilhada com esta família, pode não ser reconhecida como adulta ou como<br />
assumin<strong>do</strong> papéis adultos. Outra jovem, casada, grávida, em <strong>do</strong>micílio patrilocal,<br />
mesmo que permaneça o caráter de dependência material-<strong>do</strong>miciliar em relação<br />
à família de origem, pode ser vista pelo grupo como “mais adulta.” Nessa definição<br />
concorrem ainda fatores como a “seriedade” <strong>do</strong>s parceiros, principalmente <strong>do</strong><br />
homem que compõe a parceria. Essa seriedade <strong>do</strong>s parceiros pode ser traduzida<br />
por “responsabilidade demonstrada ao grupo,” principalmente no trabalho e/ou<br />
na participação política.<br />
Relembramos à leitora que estamos tratan<strong>do</strong> de pequenos proprietários, a<br />
partir de um recorte específico de classe. Nesse recorte, parece não fazer muito<br />
senti<strong>do</strong> a saída <strong>do</strong> <strong>do</strong>micílio da família de origem, a menos que seja para constituir<br />
nova família ou para ir à cidade. E, como falamos anteriormente, pode-se constituir<br />
nova família sem o rompimento <strong>do</strong>miciliar e ir para a cidade não necessariamente<br />
significa independência, pois pode estar relaciona<strong>do</strong> ao prolongamento <strong>do</strong>s<br />
estu<strong>do</strong>s, como é o caso de alguns jovens <strong>do</strong>s assentamentos pesquisa<strong>do</strong>s, que saem<br />
para realizar seus estu<strong>do</strong>s – principalmente em instituições que têm parceria com<br />
o MST – e depois retornam para os assentamentos de origem.<br />
A importância estrutural <strong>do</strong>s grupos <strong>do</strong>mésticos é um <strong>do</strong>s traços que caracterizam<br />
as sociedades camponesas (Cf. Mendras, 1976, apud Stropasolas,<br />
2002). Neste senti<strong>do</strong>, uma outra questão nos parece significativa para explicitar<br />
as inquietações quanto ao critério de separação <strong>do</strong>miciliar em relação à família<br />
de origem para definir a passagem à vida adulta: a economia camponesa é de<br />
2 “Casamento” está sen<strong>do</strong> emprega<strong>do</strong> para designar as uniões conjugais, formalizadas ou não.<br />
“o termo parentalidade engloba a idéia de maternidade e paternidade. o neologismo visa<br />
suprir a falta de uma palavra em português, correspondente a parenthood na língua inglesa”<br />
(heilborn, 99 : 69, apud heilborn et al, 2002).<br />
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