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Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário

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n e a D e S p e C i a l<br />

No tocante a mulheres que são <strong>do</strong> Movimento, percebemos não só a existência<br />

de uma identificação diferenciada de ser quebradeira, como uma disposição em<br />

prosseguir na articulação. Uma das explicações para que antes se envergonhassem<br />

de seu trabalho reside no fato de ser a atividade extrativa desvalorizada e estar<br />

diretamente relacionada à pobreza. “De primeiro,” afirma Francisca de Aquino,<br />

mora<strong>do</strong>ra de Monte Alegre, que “era muito difícil dá esse tipo de valor as pessoa<br />

que quebra coco.” A mobilização vem mudan<strong>do</strong> tal realidade e reforçan<strong>do</strong> um reconhecimento<br />

tanto dentro quanto fora <strong>do</strong> Movimento: “Eu acho,” afirma Maria<br />

Bringelo, “que é assim, cada categoria tem uma identificação […] uma identidade<br />

de quebradeira mostra que nós somos profissionais […] <strong>do</strong> dia-a-dia.”<br />

A identificação assumida pelas quebradeiras <strong>do</strong> Movimento evidencia uma<br />

percepção da quebra <strong>do</strong> coco como profissão merece<strong>do</strong>ra de reconhecimento social.<br />

Há uma identificação com esse discurso na fala de mulheres que não se associaram,<br />

mas que compartilham experiências com quebradeiras articuladas, como é o caso de<br />

Teresa Pereira, mora<strong>do</strong>ra de Monte Alegre: “Eu acho um trabalho muito honesto,<br />

a gente se esforça e faz por prazer […] eu prefiro quebrar coco <strong>do</strong> que ir pra roça.”<br />

A visibilidade das quebradeiras e o reforço de sua identidade se verificam de tal<br />

mo<strong>do</strong> que encontramos homens que quebram coco e mantêm contato com o Movimento<br />

manifestan<strong>do</strong> interesse em serem reconheci<strong>do</strong>s como quebra<strong>do</strong>res de coco.<br />

Tal discurso afirmativo da identidade está associa<strong>do</strong> a questões de gênero.<br />

As quebradeiras têm se mobiliza<strong>do</strong> na tentativa de desconstruir imagens que configuram<br />

uma assimetria entre homens e mulheres. Em geral, há o entendimento e<br />

o sentimento de que tal realidade precisa ser mudada. Em discussões no MIQCB,<br />

essas mulheres têm busca<strong>do</strong> apreender o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> gênero e suas complexidades,<br />

entran<strong>do</strong> em contato com um debate, por muitas, nunca anteriormente feito de<br />

mo<strong>do</strong> direto. Outra preocupação tem si<strong>do</strong> a de inserir os homens na participação<br />

desses diálogos. De to<strong>do</strong> mo<strong>do</strong>, é evidente que:<br />

A abordagem recente <strong>do</strong> gênero está igualmente associada à procura e à conformação<br />

de identidades, vistas hoje como identidades plurais. Ao se pôr em questão o masculino<br />

e o feminino e ao correlacioná-los às condições de classe, etnia, opções sexuais e outras<br />

associações, afloram potencialidades e diferenças que realçam com nitidez identidades e<br />

oposições, portanto a complexidade inerente ao campo. (Queiroz, 1996, p. 11)<br />

Um <strong>do</strong>s elementos que perpassa to<strong>do</strong> o processo de afirmação das quebradeiras<br />

reside na busca de autonomia nas relações com seus mari<strong>do</strong>s/companheiros e<br />

na igualdade de espaços, a partir da qual elas possam mais efetivamente participar<br />

das tomadas de decisão no âmbito familiar. Algumas dessas trabalha<strong>do</strong>ras entendem<br />

que uns poucos homens já desenvolveram uma percepção das desigualdades<br />

alicerçadas em nome das diferenças de gênero, o que se verifica, por exemplo, no

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