Margarida Alves - Ministério do Desenvolvimento Agrário
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n e a D e S p e C i a l<br />
de pertença grupal, por outro é também fonte de conflitos, de disputa de poder e de<br />
interesses diferencia<strong>do</strong>s. Entretanto, ao se falar de mudanças, de evolução no mo<strong>do</strong> de<br />
vida, a participação e a organização <strong>do</strong>s assenta<strong>do</strong>s e assentadas aparece com toda a sua<br />
positividade, geran<strong>do</strong> novos aprendiza<strong>do</strong>s e, sobretu<strong>do</strong>, reconhecimento e valorização,<br />
tanto no plano pessoal como social.<br />
As mulheres trouxeram o tema da mudança de mo<strong>do</strong> mais enfático ao se<br />
referirem a diversos aspectos de suas vidas, transformadas com a criação <strong>do</strong> assentamento,<br />
mas, sobretu<strong>do</strong>, pela descoberta e entendimento da sua condição de<br />
mulher trabalha<strong>do</strong>ra rural.<br />
Com o assentamento tem lugar um novo ciclo em que participação e organização<br />
se difundem e diversificam em grupos, projetos diferencia<strong>do</strong>s e espaços<br />
institucionaliza<strong>do</strong>s com normas específicas. Ao tempo em que a presença dessas<br />
organizações resulta de mudanças que têm origem primeira na resistência e luta<br />
pela terra, consiste em novas fontes de mudanças.<br />
Homens e mulheres passaram a participar de várias atividades e mobilizações<br />
de interesse <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res e trabalha<strong>do</strong>ras e assenta<strong>do</strong>s da reforma agrária,<br />
promovidas pelo movimento sindical, principalmente ligadas às reivindicações<br />
<strong>do</strong>s direitos sociais, de políticas para a agricultura familiar e de reconhecimento<br />
das mulheres trabalha<strong>do</strong>ras rurais. A participação em reuniões e atividades no<br />
município, e ainda, no âmbito regional, estadual, e mesmo nacional, se constituiu<br />
em forte referência para as mudanças operadas, tanto no nível pessoal, como nas<br />
relações interpessoais, familiares e coletivas. É o caso da participação de varias<br />
assentadas na Marcha das <strong>Margarida</strong>s, em 2000 e 2003, promovida pela Confederação<br />
Nacional <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res na Agricultura (Contag), em parceria com<br />
outros movimentos e organizações sociais.<br />
É preciso destacar que a trajetória de luta e organização <strong>do</strong>s assenta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> PA<br />
Aliança contou com o envolvimento de homens e mulheres de mo<strong>do</strong> diferencia<strong>do</strong>.<br />
As iniciativas junto ao Sindicato <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res Rurais e outros media<strong>do</strong>res,<br />
bem como as reuniões na comunidade e a participação em reuniões externas<br />
foram protagonizadas pelos homens.<br />
Durante o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> conflito pela posse da terra, as mulheres tiveram uma<br />
participação condicionada, a princípio, ao que era comumente entendi<strong>do</strong> e aceito<br />
como próprio às mulheres. Participavam das rezas e missas e, de maneira silenciosa,<br />
das reuniões que ocorriam na comunidade. Entretanto, em seu silêncio<br />
souberam resistir e oferecer sustentação para a permanência das famílias na terra<br />
durante to<strong>do</strong> o tempo de ameaças e violências.<br />
As narrativas em torno da participação no processo de resistência e luta pela<br />
terra evidenciam a naturalização da divisão sexual <strong>do</strong>s papéis sociais. E em que<br />
pesem essas diferenciações, a trajetória de resistência, luta e conquista da terra